É só o tempo esquentar que eles aparecem. Junte uma luz acesa e uma janela aberta pra ver o que acontece no teto: uma convenção anual de bichinhos em cima da nossa cabeça. Anual? Capaz. Pode ser toda noite esse encontro de pontos pretos minúsculos que se mexem sem parar. Uma frestinha já é suficiente pra chamar a bicharada. Aguenta o calor e fecha a janela? Tarde demais. Quando a gente se dá conta, eles já entraram e vieram de turma. Impossível contar quantos deles rodopiam.

O que esses bichos de luz fazem durante o dia? Não sei se dormem, se perambulam à toa nas ruas, se passeiam em parques ou em determinados bairros. De noite, o rolê tá garantido. Qualquer iluminação é parada obrigatória. Um abajur aceso é um convite: venham todos! Nem a tela do meu computador escapa. Agora um deles desceu do teto e veio aqui me incomodar. Enquanto escrevo essa coluna, ele caminha entre as letras. E se chamar o bando? Como vou enxergar o final da frase? 

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Ideia 

Eu não suporto esses bichinhos, mas não quero ser injusta. Pra alguma coisa eles servem. Eu estava sem ideia pra escrever, e olhei pra cima em busca de inspiração. O teto lotado deles me fez pensar: mais alguém passa pelo mesmo perrengue e odeia. Insetos de verão - missão impossível. A estação, que nem começou, já manda antecipadamente seus representantes. Não é só praia, casquinha de siri e caipirinha. É suar o bigode e desejar uma lagartixa de estimação pra devorar a bicharada voadora.

Apago a luz da sala, fecho a janela e o que acontece? Os bichinhos me seguem pela casa, cutucam o cabelo, grudam na pele, testam a paciência. Não dá pra ter luz própria? Escrevo, me coço e espio a situação no teto. O complô diminuiu. Restou a metade dos pontos pretos hiperativos. Pra onde foram os outros insetos? Um tentou entrar no meu nariz agora mesmo. O mais debochado segue zanzando na tela iluminada do computador. E se eu contar que uma joaninha tá caminhando nos meus óculos?