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Médicos do Sorriso levam alegria para pacientes que lutam contra o câncer em Porto Alegre

Projeto social fez visita a pessoas internadas no Hospital Santa Rita na manhã deste sábado

27/11/2022 - 12h07min

Atualizada em: 27/11/2022 - 12h10min


Vinicius Coimbra
Vinicius Coimbra
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Maria Amaral, de cima de uma escada, cantou com os Médicos do Sorriso

 O quarto 5324 do Hospital Santa Rita, no Complexo da Santa Casa, em Porto Alegre, estava silencioso por volta do meio-dia de sábado (26). Nos leitos, havia duas pacientes internadas para tratamento de câncer. O ambiente mudou no minuto seguinte à entrada de Querubina e Julieto Justo, a dupla de palhaços do Médicos do Sorriso, uma iniciativa que há 18 anos leva alegria a pacientes internados em hospitais do Estado.

Uma das pacientes do quarto 5324 era Maria Helena Martins Amaral, 76 anos, internada há 16 dias para a retirada de um tumor no fígado. Ela ocupou uma escada de dois degraus que estava no quarto para acompanhar a apresentação, de onde, junto dupla de palhaços, cantou a música Beijinho Doce. Depois, com a ajuda de Querubina e Julieto Justo, Maria Helena gravou em vídeo com “parabéns” para o filho, que completava 53 anos no dia.

— É um trabalho especial. A gente se diverte muito com eles — diz a paciente, moradora de Palmeira das Missões, no norte do RS.

A companheira do quarto, Patrícia Helena Ferreira, 45 anos, acompanhou da cama a apresentação dos palhaços. Moradora de Alvorada, ela luta contra a leucemia desde junho deste ano. No sábado, ela completava oito dias internada no hospital para sessões de quimioterapia.

— Eu adoro quando eles vêm aqui, amo a farra que fazem. Estamos em um momento fragilizado, que não é fácil. Eles nos trazem um pouco de alegria — comenta Patrícia.

No quarto em frente, Eduardo Reginatto, 52 anos, internado no Hospital Santa Rita há três semanas para tratamento de leucemia descoberta em setembro deste ano, também comemorou a “intervenção” dos palhaços no início da tarde.

— O câncer não é uma doença fácil de se lidar, mas o atendimento humanizado é um alento para a alma, é um novo ar. Essas atividades paralelas são essenciais — pontua o morador de Camaquã.

Já Nilza Maria Machado Martins, 62 anos, que mora na Lomba do Pinheiro, na Capital, estava internada devido ao tratamento de um câncer de no intestino grosso e no fígado. Fã de música, ela disse ter gostado da apresentação da dupla, e colocou Castelhana, do grupo Os Serranos, para tocar em uma caixa de som.

— São maravilhosos, trazem alegria, um bem-estar tão bom para a gente, um alto astral. Espero que eles continuem assim — diz.

A companheira de Nilza no quarto era Adriana Caetano Rosa, 38 anos, internada desde o último dia 9, para o tratamento de uma obstrução nos rins causada por um tumor detectado em 2019:

— Eles trazem alegria, ainda mais para quem está isolado, longe da família. É bem divertido mesmo.

Esse tipo de abordagem é também elogiado por Sara Loa de Jesus, enfermeira do Hospital Santa Rita. Segundo ela, a forma como os palhaços atuam ajuda nos trabalhos da equipe médica e melhora o ânimo dos pacientes.

— A unidade fica geralmente fechada por causa de isolamento, infecção, então os pacientes não têm muitas distrações. Então esse tipo de iniciativa ajuda no processo, porque eles dão risada, se distraem um pouco. Aqui é uma unidade com um clima mais pesado, são doenças difíceis de serem tratadas — pontua.

Médicos do Sorriso

O projeto social Médicos do Sorriso foi criado em 2004 em Caxias do Sul, na Serra, pelo ator e diretor Davi de Souza. A proposta é levar o palhaço como “fio condutor” da humanização por meio do riso, com o objetivo amenizar as dores e o desânimo de quem passa por uma internação hospitalar. Segundo Davi, a ideia da iniciativa nasceu quando ele foi internado aos 14 anos para o tratamento de encefalite. Naquele momento, um dos companheiros de quarto, chamado Chico, com bom piadas e bom humor, ajudou o então adolescente a enfrentar a doença que havia tirado a vida do irmão anos antes.

— Sem saber, o Chico era um artista, ele fazia o que os palhaços fazem aqui. Me ajudou muito e isso ficou comigo desde então — afirma Davi.

Neste momento, o projeto trabalha para elaboração de um documentário e de um livro. Os materiais devem ser lançados juntos no início de 2023. O Médicos do Sorriso conta hoje com 14 palhaços profissionais que atuam em diversos hospitais gaúchos, com pessoas de todas as idades. Segundo Davi, o trabalho é planejado com cuidado para atender cada público.

— Não é só colocar um nariz de palhaço e contar piada. Tem um estudo, preparação, respeito aos limites que um hospital impõe, às normas. O Médicos do Sorriso é a cara alegre de um trabalho sério — resume.

A Querubina que alegou os pacientes do hospital é interpretada por Luciane Olendzki, 46 anos, doutora em Arte da Cena pela Universidade de Campinas (Unicamp). Ela está no Médicos do Sorriso há duas semanas.

— É um grande presente observar e participar de momentos únicos do espetáculo da vida humana em situações de tanta fragilidade. O mais importante, para mim, é a aprendizagem em relação ao ser humano em todas as suas condições, de beleza e força, que se revela mesmo nas situações mais difíceis.

Fabio Castilhos, 38 anos, ator e mestrando na área de Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é o Julieto Justo, que completou a dupla responsável por alegrar os pacientes do Hospital Santa Rita na manhã de sábado.

— O que me encanta em ser palhaço e fazer palhaçaria é a possibilidade de criar relações, afetar e ser afetado, essa troca e potência de vida. Não fingimos que não está acontecendo, que não existe dor e tragédia, mas buscamos encontrar o que há de vida — diz.


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