Direto da Redação
Michele Vaz Pradella: "Os ídolos nunca morrem"
Todas as quartas-feiras, jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano
As últimas semanas de 2022 têm sido de despedidas. No início de novembro, perdemos Gal Costa, uma das maiores vozes da MPB. Na semana passada, o adeus a Erasmo Carlos deixou mais uma lacuna importante na cultura brasileira. Como lidar com a morte dos grandes ídolos?
Cresci ouvindo hits da Jovem Guarda, a maioria deles entoados pela dupla inseparável Roberto e Erasmo. O Rei e o Tremendão embalaram minhas primeiras sonecas de bebê, animaram minha infância e, confesso, me incomodaram na adolescência. Passada a fase “rebelde sem causa que odeia tudo”, passei a compreender a genialidade daqueles caras que revolucionaram a música brasileira.
Bem antes da versão modernizada feita pelo Jota Quest, Além do Horizonte já era uma das minhas canções preferidas, pois a conheci na voz de Roberto Carlos, uma baladinha cheia de significado, daquelas de se cantar junto, com os olhos fechados e o coração arrebatado. Das mais de 600 músicas de Erasmo e Roberto, não é exagero dizer que dezenas delas fazem parte da minha história.
No início da pré-adolescência, eu costumava cantar no chuveiro a bela canção Dia de Domingo, que conheci através do dueto de Gal Costa e Tim Maia. No auge da moda do videokê, essa era uma das músicas que eu mais entoava à exaustão. Na voz de Gal, meus ouvidos se deleitavam ainda com Chuva de Prata e Sua Estupidez (esta, mais uma parceria deles, Roberto e Erasmo). Entre as minhas favoritas, estava ainda Força Estranha, mas esta eu nunca tive coragem – nem alcance vocal – para cantar. Deixava Gal performar sozinha, enquanto eu ouvia embevecida cada nota alcançada.
A partida de grandes artistas é sempre dolorosa. Faz pensar sobre a finitude, sobre a iminência de outras ausências, afinal, é a ordem natural da vida. Por outro lado, tenho a certeza de que Gal, Erasmo, Elis, Tim Maia, Raul, Belchior, entre tantos outros, nunca morrem. Seguem embalando nossas melhores lembranças, conquistando fãs de todas as gerações, perpetuando-se na arte que deixaram. Grandes ídolos são eternos.