Eldorado do Sul
Projeto incentiva crianças e adolescentes a terem contato com mundo da arte
Atividades na iniciativa Lar Luz da Criança são tocadas pela Fundação Iberê Camargo; alunos participam de oficinas e passeios
Desenhos e recortes pendurados entre os espaços, cartazes com pinturas nas paredes e produções artísticas, como máscaras, nos corredores. É desta forma colorida que o local onde acontece o Projeto Educativo de Interação Social Lar Luz da Criança, no Parque Eldorado, em Eldorado do Sul, é visto por quem o visita. As atividades são realizadas por meio da iniciativa Iberê nas Escolas, da Fundação Iberê Camargo.
Em maio deste ano, o Diário Gaúcho apresentou o projeto, que acolhe 40 crianças e adolescentes, de oito a 15 anos, no turno inverso das aulas. Eles são alunos das escolas municipais Paraná e Octávio Gomes Duarte, na região. A seleção foi feita por uma assistente social e pela equipe das escolas, priorizando aqueles que estivessem em situação de maior vulnerabilidade social.
Competências
A casa onde o projeto ocorre foi cedida à prefeitura por um casal da cidade. Para reabrir as portas, uma reforma foi feita pelo município neste ano, com inauguração em abril.
Passados seis meses do início das atividades, os envolvidos percebem e recebem retornos sobre a transformação que as atividades têm feito no dia a dia dos jovens. A equipe conta com arte-educadora, educadoras sociais, assistente de produção e oficineiros. Com atividades que aproximam os alunos do meio artístico, o projeto tem oficinas temporárias. Cada oficineiro apresenta recursos diferentes, que são trabalhados em bimestres. Ao longo do projeto, já participaram três oficineiras.
— Não somente como uma questão de desenvolver habilidades artísticas, mas (a arte) traz competências para ajudar na autoestima, autogestão, a olhar ao seu entorno, leitura de mundo. E eles têm trabalhado a arte de maneira interdisciplinar — esclarece a supervisora pedagógica do Iberê nas Escolas em 2022, Mariah Pinheiro.
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Experiências diversificadas
Em cada sala do espaço, uma atividade diferente é ofertada. Em uma delas, um mural com várias nuances de tom de pele está exposto. Segundo Mariah, o trabalho sobre identidades trouxe o debate da pluralidade do grupo, o respeito à diversidade.
Uma das oficineiras trabalhou com a sensibilização do olhar das turmas com os espaços da casa e da região de Eldorado através da linguagem audiovisual. No final desta oficina, uma projeção de mapas onde eles moram foi exposta em uma das salas. Os alunos já tiveram contato com ritmos e jogos teatrais e puderam fazer interpretações com máscaras que produziram.
Atualmente, estão envolvidos na oficina luz e sombras. Com a luz de um retroprojetor antigo, os alunos usam recursos e materiais para fazerem sombra em um tecido branco. Do outro lado do pano, outros colegas assistem.
— Eles usam recurso para contar histórias, se expressar. Trazem histórias individuais, mas também usam contos. Temos trabalhado a narrativa, porque a questão da escrita ficou defasada com a pandemia, e estamos estimulando através da arte a contação de histórias com recursos visuais. Eles estão conhecendo linguagens artísticas e descobrindo habilidades em cada uma delas e seus potenciais — diz Mariah.
"Descobri um monte de coisas"
É com diversão que os alunos Vitória da Rosa Silva, 13 anos, e Miguel Azevedo Bandeira, 12 anos, ambos estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Octávio Gomes Duarte, descrevem as propostas.
— O que eu mais gostei até aqui, não sei se foi o jornal zine (mini jornal feito com folha A4 dobrada) ou o teatro de sombras. A gente nunca fez algo como o teatro desse jeito, e vamos sair daqui para apresentar no final do ano. Vamos apresentar uma música do Michael Jackson — diz Miguel, com animação.
Vitória emenda:
— Gostei do teatro de sombras. Descobri um monte de coisas, então achei muito legal e novo.
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Ampliando horizontes dos estudantes
O Parque Eldorado fica a cerca de 40 quilômetros de distância do centro da cidade. Segundo o professor Sidney Sousa Ferraz da Silva, coordenador do projeto Lar Luz da Criança, a maior parte dos alunos não conhecia Porto Alegre e, através da iniciativa, puderam ir além do que era possível dentro das suas rotinas:
— Como aqui é uma região muito afastada, a ideia é mostrar para eles que o mundo é maior que o Parque Eldorado, ampliar as perspectivas e dar opções de escolhas. A gente foi no cinema, no Iberê, na Praça da Alfândega e no Boulevard Laçador. A maioria não conhecia a ponte nova do Guaíba.
Tanto Sidney, como a arte-educadora Ana Paula Goulart, percebem nos alunos o impacto do que tem sido trabalhado. Além disso, o resultado é descrito pelas famílias, por meio de mensagens, em que relatam avanço no comportamento dos estudantes, com menos agressividade, mais autoconfiança, melhorias nas relações, incremento da autonomia, entre outros.
Vínculo
— Começamos trabalhando com eles o autoconhecimento, para eles se conhecerem e nos conhecerem. A partir disso, formamos um vínculo muito forte. A arte faz eles abrirem muitas vivências, de coisas que passaram em casa, na família. Através da arte, conseguem se expressar livremente — relata Ana Paula.
E Sidney complementa:
— Cada vez que temos uma atividade diferente ou fazemos um passeio, posto fotos em um grupo de pais. Toda vez que leio os retornos é bem gratificante.
Incremento das atividades em 2023
Para o secretário municipal de Educação, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, Gelson Antunes Santos, o propósito do projeto tem sido atingido:
— Eles estão tendo um grande crescimento aqui. Alguns sequer conheciam Porto Alegre e, agora, eles têm feito passeios, interagido com a comunidade, além dos momentos em que estão aqui.
A parceria da Fundação Iberê com a prefeitura está sendo trabalhada desde 2021 e resultou em um convênio de cooperação mútua, subsidiado por recursos públicos. No local, os estudantes também recebem as refeições. Alimentação, limpeza e segurança são serviços terceirizados. Um ônibus fornecido pela prefeitura transporta alunos entre escolas, projeto e suas casas.
O secretário projeta para o próximo ano a expansão do atendimento para cerca de 150 jovens, com o início de novas atividades, como o Projeto Pescar e a Fundação Pão dos Pobres — parcerias na área profissionalizante. A intenção é ter 40 jovens aprendizes.
Segundo Gelson, o Parque Eldorado é uma região de sítios, com 8 mil moradores, e uma grande população que trabalha informalmente.