O universo é o limite
"Quero me tornar a primeira mulher brasileira astronauta", diz gaúcha de 20 anos que participou de treinamento da Nasa
Isadora Stefanhak Costa Arantes foi aos Estados Unidos para participar do curso Advanced Space Academy
A porto-alegrense Isadora Stefanhak Costa Arantes, de 20 anos, cresceu no Parque Eldorado, em Eldorado do Sul e é de lá que falou com a reportagem de GZH sobre a maior aventura da sua existência, vivida recentemente. A simplicidade do som dos passarinhos e do latido dos cachorros ao fundo da ligação contrasta muito com a realidade “paralela” que a jovem vivenciou entre os dias 30 de outubro e 4 de novembro deste ano, na Nasa. Ela esteve na cidade de Huntsville, no Estado do Alabama (Estados Unidos) para participar do curso Advanced Space Academy, onde pôde aprender sobre engenharia aeroespacial e fazer um treinamento inicial para astronautas.
— Como o curso é feito no local onde nasceu o programa espacial americano, eu fiquei hospedada nas mesmas instalações em que os primeiros astronautas ficaram e usei os equipamentos de treinamento que eles usaram, o que foi muito sensacional. Tivemos muitos treinos físicos, como, por exemplo, o de simulação de microgravidade. Ficávamos mergulhados em um tanque a sete metros de profundidade, onde havia uma estrutura simulando uma estação espacial em que tínhamos que tentar fazer atividades rotineiras dos astronautas — descreve a jovem.
O caminho até chegar aos Estados Unidos foi longo. Como adolescente prodígio, aos 17 anos, Isa saiu nas linhas de GZH comemorando o aceite no programa internacional. Mas como era 2020, a pandemia acabou adiando o sonho. Isadora aproveitou esse meio tempo ir para as faculdades, no plural: atualmente, cursa astrofísica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e biologia na UniFatecie, uma instituição do Paraná com polo em Porto Alegre onde tem bolsa. Foi o caminho lógico para uma mulher que desde os 12 anos tem como objetivo ser astrofísica.
— Curso física com ênfase em astrofísica, aplicada à astronomia e ao universo, focando em leis da gravitação, relatividade e cosmologia. E faço biologia porque pretendo seguir carreira na astrobiologia, uma ciência muito nova que estuda de onde vem e para onde vai a vida no universo. É a busca por exoplanetas, planetas habitáveis, bactérias no universo, etc — explica.
Como a vaga que havia conquistado na Nasa era para alunos de Ensino Médio, Isa precisou submeter novamente uma aplicação, para uma vaga de adulto. Munida de histórico escolar das universidades, cartas de recomendação, duas medalhas de ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, primeiro lugar nas Olimpíadas de Ciências Exatas, participações na Jornada e na Mostra Brasileira de Foguetes e em competições nacionais de Matemática e Biologia, Isa garantiu sua vaga novamente.
Ficou ombro a ombro com outros 14 participantes, todos mais velhos e mais experientes na área do que ela, com que aprendeu muito. Entre seus colegas, lembra a jovem, havia uma mulher que trabalhava para a Agência Espacial Italiana, engenheiros de software, engenheiros da computação, pilotos e mais.
— Conheci inclusive uma menina que é do Sri Lanka e está fazendo doutorado nos EUA em astrofísica e astrobiologia, então ficamos super amigas, pois é a área que quero seguir. Estamos em contato e conversando sobre oportunidades na área. Mais do que com o curso, na Nasa, eu aprendi que, sem nunca ter feito isso, posso ir sozinha para outro país, falar um outro idioma. Dá uma sensação de pertencimento ao mundo, de saber que eu sou capaz — afirma Isa.
Treinamento espacial
Conforme descreve Isadora, o curso é bastante focado em engenharia aeroespacial, aviação, exploração do universo e treinamento físico de astronautas. Teve também uma introdução à lingua russa, já que junto com o inglês, é o idioma mais falado na Estação Internacional Espacial.
Um dos desafios que a jovem de 20 anos encarou foi cadeira Multi Axis Trainer, uma estrutura giratória que simula como seria se a espaçonave fosse atingida por algo e experimentasse múltiplas rotações em diferentes direções, sem parar. A ideia é treinar o corpo para que o astronauta consiga reagir em condições adversas e retomar o controle da nave.
Falar sobre a Artemis, missão espacial que deve ter lançamento ainda este mês pela Nasa, foi mais uma das oportunidades legais que marcaram a temporada de Isadora nos EUA. Houve momentos em que almoçou ou jantou lado a lado com diretores de projeto e engenheiros envolvidos na missão.
— Eles falaram conosco sobre a Artemis, sobre o futuro dos programas espaciais, sobre como se tornar astronauta, o que para mim foi maravilhoso porque pude pedir dicas sobre como seguir nessa carreira. O meu maior sonho é me tornar uma grande cientista, mas quero também me tornar astronauta. É complicado, mas não impossível. Então eu vou tentar porque quero me tornar a primeira mulher brasileira astronauta — afirma Isa.