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Direto da Redação

Leticia Mendes: "Meta a colher"

Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

07/12/2022 - 09h52min


Leticia Mendes
Leticia Mendes
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Agência RBS / Agência RBS
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Mariana, Francine, Heide, Thairine, Deise, Maila, Isabel, Sandra, Viviane, Liana, Ana Carolina, Ketlyn, Paola, Nara... Esses são alguns nomes guardados na minha memória. São mulheres que não conheci. Mas, infelizmente, nossos caminhos se cruzaram de forma triste. Noticiei o desfecho de suas vidas. Todas vítimas de feminicídio.

Ao longo dos anos, a violência doméstica se tornou um dos temas mais recorrentes no meu dia a dia como repórter policial. E, claro, especialmente os feminicídios, único crime não subnotificado. Raras vezes o autor consegue esconder o delito. Diferente da tortura psicológica, das ameaças, das lesões e até dos estupros, que se repetem nos sigilos das casas. E que, por vezes, demoram anos para romperem o silêncio.

Estima-se que a mulher vítima de violência leve até uma década para pedir ajuda. Dez anos sendo vítima do mesmo crime. Muitas vezes sem sequer se reconhecer como vítima, carregando a culpa por ser violentada, por aquele relacionamento não ter saído como esperava, pelo fracasso familiar. A culpa nunca é da vítima. Nunca! Mas é muito mais simples para quem está de fora enxergar isso.

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O caso da Mariana, no topo dessa lista, foi um dos últimos noticiados. Colocar-se no lugar das vítimas, por ser mulher, já é algo inevitável. Dessa vez, foi ainda mais impactante. O pai me narrou que a filha trabalhava como atendente de farmácia, enquanto cultivava sonhos para o futuro. Por mais de três anos me dividi entre o balcão de uma farmácia e as aulas de Jornalismo. Era a forma de custear o transporte até a faculdade.

Foi impossível não retornar àquele tempo e pensar em tudo que eu ainda viveria pela frente. E em tudo que a Mariana não terá o direito de viver. A Mariana não conseguiu romper a relação que vivia. Como muitas não conseguem, exaustas, aterrorizadas ou sufocadas pela teia do ciclo da violência. Crescemos ouvindo que não se mete a colher na relação dos outros. Metam a colher sim, não se omitam, e, principalmente, não desistam dessas mulheres. Não deixem que elas ocupem essa lista, onde jamais deveriam estar. 



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