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Papo Reto

Manoel Soares: "Orgulho das derrotas" 

Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados 

10/12/2022 - 05h00min

Atualizada em: 10/12/2022 - 05h00min


Adrian DENNIS / AFP
Neymar chora após a eliminação do Brasil contra a Croácia

Eu estou vendo uma galera triste com a derrota do Brasil. Eu estou acostumado com derrotas. Há anos, luto contra o racismo, e infelizmente essa luta é perdida diariamente – homens são espancados em supermercado de Canoas como se estivéssemos no período colonial. Luto também contra o preconceito com pessoas com diversidade neural, os autistas, por exemplo. Perco sempre, vejo muitas pessoas desfazendo do sofrimento de crianças e adultos que têm algum transtorno neurológico. 

Luto contra a fome, essa luta é antiga, não ter a certeza de que teremos algo para pôr no prato é assustador. Luto contra a violência vivida pelas mulheres, luto contra o preconceito geográfico que discrimina as pessoas pelo seu endereço na hora de buscar emprego, além de muitas outras lutas que perco diariamente. 

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Mas eu me orgulho de minhas derrotas, não quero nessas lutas estar do lado dos vencedores, não quero a alegria dessas vitórias se não vier acompanhada do que acredito. Sei que muitos vão criticar a minha visão de mundo, mas o universo não dorme. Uma Seleção onde os caras que nos representam comem carne banhada a ouro, pagando por um pedaço o equivalente a seis meses de salário de uma família brasileira, não merece ganhar. Quem botou aquela carne na boca já estava derrotado, não pelas regras da Copa, mas da vida. 

Não é sobre você poder ou não comer, é sobre dever ou não comer. A Seleção perdeu meu respeito ali, não foi no campo na sexta, porque como disse MV Bill: “Quem não tem amor pelo povo brasileiro, não me representa aqui nem no estrangeiro”. Me orgulho das minhas derrotas mais que das vitórias deles.


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