Papo Reto
Manoel Soares: "Presente de Edson"
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
Quem já viu um menino com esse olhar?
Meninos que na bola conseguem criar um universo paralelo em que são reis.
Meninos que contrariam a lei da gravidade e flutuam para não cair.
Meninos que dão soco no ar ao colocar um tijolo no castelo do impossível.
O mundo tenta devorar meninos como esse e, às vezes, devora. Mas quando eles escapam, levam todos nós para morar nesse olhar.
Edson deu nome e existência a muitos invisíveis.
Homens negros que em seus empregos, nas suas ruas, nas suas existências passaram a responder pelo codinome “Pelé”.
Meu falecido pai foi um desses, na minha casa Pelé era como a rua chamava seu Adailton.
Era como minha mãe se referia a ele: “Quando Pelé chegar eu pergunto a ele…”
Pelé não era só um jogador de futebol, mas uma identidade social visível e emprestável.
Edson se referia a Pelé como outra pessoa, porque sabia a diferença.
O Edson era dele, mas o Pelé era nosso.
Essa foto é de quando o Edson criava o Pelé, esse olhar nunca morre, ele vive em outros meninos que, como ele, querem ser reis.