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Papo Reto

Manoel Soares: "Presente de Edson"

Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados 

31/12/2022 - 05h00min

Atualizada em: 31/12/2022 - 05h00min


NELSON ALMEIDA / AFP
Manoel Soares homenageia o Rei do Futebol

Quem já viu um menino com esse olhar? 

Meninos que na bola conseguem criar um universo paralelo em que são reis. 

Meninos que contrariam a lei da gravidade e flutuam para não cair. 

Meninos que dão soco no ar ao colocar um tijolo no castelo do impossível. 

O mundo tenta devorar meninos como esse e, às vezes, devora. Mas quando eles escapam, levam todos nós para morar nesse olhar. 

Edson deu nome e existência a muitos invisíveis.

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Homens negros que em seus empregos, nas suas ruas, nas suas existências passaram a responder pelo codinome “Pelé”. 

Meu falecido pai foi um desses, na minha casa Pelé era como a rua chamava seu Adailton. 

Era como minha mãe se referia a ele: “Quando Pelé chegar eu pergunto a ele…”

Pelé não era só um jogador de futebol, mas uma identidade social visível e emprestável. 

Edson se referia a Pelé como outra pessoa, porque sabia a diferença.

O Edson era dele, mas o Pelé era nosso.

Essa foto é de quando o Edson criava o Pelé, esse olhar nunca morre, ele vive em outros meninos que, como ele, querem ser reis.




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