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Pais protestam contra fechamento de escolas em Camaquã
Instituições ficam na zona rural do município
Em Camaquã, no sul do Estado, pais de alunos reclamam da previsão de fechamento de três escolas municipais na zona rural. As instituições devem parar de funcionar a partir do próximo ano. Segundo os pais, o projeto foi traçado pela prefeitura e pela Secretaria Municipal da Educação e Desporto sem ser dada a chance de se pensar em alternativas e sem haver uma conversa prévia com as comunidades das regiões.
Em detalhes
/// As escolas são Rui Barbosa (tem 100 alunos e fica na localidade da Chácara Velha), Sylvio Luiz (110 alunos, localidade da Vila Aurora) e Vicente Garcia (125 alunos, localidade do Bonito). Todas são municipais e de Ensino Fundamental.
/// Grupos de pais, associações comunitárias, sindicato de servidores e cooperativa rural do município conseguiram um mandado de segurança para que nada fosse decidido ou feito sem o Conselho Municipal de Educação se manifestar.
/// No dia 16 de novembro, o conselho se posicionou, mas de forma neutra. A entidade disse que cabe ao poder Executivo decidir colocar ou não em prática o chamado Projeto de Readequação/Reestruturação de Escolas da Zona Rural de Camaquã.
/// Nesta semana, a secretaria propôs reuniões com pais das escolas envolvidas no processo. Mas os responsáveis de pelo menos duas instituições decidiram não comparecer porque os encontros não foram feitos em suas comunidades e, de acordo com eles, pareciam não ter abertura para diálogo.
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Motivo
A informação que chegou até a cozinheira Elenice Martins de Martins, 39 anos, mãe de gêmeas de 13 anos que estudam na Rui Barbosa, é de que o motivo do fechamento seria os gastos do município com Educação estarem acima do limite.
— Só que eles (prefeitura) não estão vendo que vai se gastar muito mais em transporte escolar — argumenta Elenice.
Como explica, os alunos terão de fazer um deslocamento maior por estradas em condições que descreve como "péssimas", por serem de chão-batido.
A transferência para outra escola vai interferir nos planos das filhas, que estudam no local desde os quatro anos. Como conta Júlia Martins Viégas, hoje no oitavo ano, o que queria era se formar no Ensino Fundamental com a mesma turma.
Adaptação
A dificuldade logística também está entre as preocupações da agricultora Carmen Ferreira Alves, 45 anos, mãe de duas alunas, de seis e de 12 anos, da Sylvio Luiz. Junto a isso, ela elenca a possibilidade de as filhas ficarem em turnos diferentes.
No caso da família de Carmen, mais uma questão entra em jogo: a filha mais velha, diagnosticada com síndrome de Asperger — que está dentro do espectro autista —, tem problemas com organização interna. Ela precisa de rotina, ressalta a agricultora.
— Ela já vem de outra escola, de Porto Alegre para cá, já teve que fazer toda essa transição, com colegas novos, professores novos e agora termos de novo que trocar de escola, fica bem difícil — desabafa.
Comunidade
Manifestações já foram feitas nas escolas e também em frente à prefeitura. Uma das participantes foi a agricultora Camila Manske dos Santos, 33 anos, mãe de uma estudante de 12 anos da escola Vicente Garcia, mas também ex-aluna, filha de aluna e neta de aluna da instituição.
— Essa escola faz parte da história da nossa comunidade, as pessoas mais velhas daqui viram ela sendo construída — afirma.
Ela explica que, em um protesto no dia 14 de outubro, esteve entre os pais que foram recebidos pela prefeitura. Mas afirma que, no encontro, não puderam expor suas opiniões, pois não houve diálogo.
O que diz a prefeitura
/// Em nota assinada pelo secretário de Educação e Desporto, Nelson Egon Geiger Filho, são indicados entre os motivos para a decisão: a menor quantidade de alunos no interior nos últimos anos, o maior número de saídas de alunos (concluindo o Ensino Fundamental) em relação ao número de matrículas novas na pré-escola e a existência de escolas em uma mesma região, "sendo que apenas uma atenderia a demanda".
/// A nova estrutura é pensada para existirem escolas-polo. Os alunos da Rui Barbosa e da Sylvio Luiz iriam para a escola João Beckel. E os da Vicente Garcia para a Otto Laufer. A proposta, conforme o texto, é oferecer "atendimento apropriado da Educação do Campo, quanto a um currículo voltado para esse contexto de vida".
/// Quanto a alunos com deficiência, autismo ou altas habilidades/superdotação, a nota diz que é ofertado o Atendimento Educacional Especializado nas escolas ou em centros de atendimento.
Produção: Isadora Garcia