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Folia na capital gaúcha

Carnaval de Porto Alegre: história, desfile e datas

Da origem em pobres comunidades até os desfiles no Porto Seco, a celebração cultural sobrevive para mais uma edição em 2023 

26/01/2023 - 09h51min

Atualizada em: 26/01/2023 - 09h51min


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Mateus Bruxel / Agencia RBS

Seja no desfile do Porto Seco ou nas festas espalhadas pelas avenidas e bailes da cidade, o Carnaval de Porto Alegre é uma celebração para todas as idades, gêneros e raças. Segundo o livro Fragmentos Históricos do Carnaval de Porto Alegre, a festividade na capital surgiu como expressão cultural durante o final do século XIX nos comunidades pobres como o "Areal da Baronesa" e a "Colônia Africana".

O Areal, assim chamado por ser na beira do rio (uma praia, posteriormente aterrada e onde hoje é a Praça Cônego Marcelino, no bairro Cidade Baixa), era um reduto totalmente carnavalesco. A partir dos anos 1930 já existem noticias em jornais de grupos com nomes de Ases do Samba, Nós os Comandos, Seresteiros do Luar, Nós os Democratas, Viemos de Madureira, Tô com a vela, Os Caetés e mais recentemente, os Imperadores do Samba. Foi onde surgiu o Rei Negro, o Seu Lelé, primeiro Rei Momo Negro da cidade, e os primeiros coretos populares de bairro. 

O outro bairro da cidade que deu origem ao Carnaval de Porto Alegre, a chamada "Colônia Africana", hoje dá nome aos bairros Rio Branco, Mont'Serrat e adjacências. Na época pós abolição da escravatura, foi o local onde negros libertos foram morar. Da Colônia surgiram grupos como o Aí-vem-a-Marinha, Prediletos, Embaixadores e Namorados da Lua. O bairro também abrigava o famoso Salão Modelo, na esquina das ruas Miguel Tostes e Castro Alves.

Escolas de Samba do Carnaval de Porto Alegre

Considerando as agremiações carnavalescas em atividade, os Bambas da Orgia são os mais antigos. Sua fundação é de 1940, bem antes de muitas das famosas escolas do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Império Serrano, Beija-Flor, Salgueiro, Mocidade Independente e Imperatriz Leopoldinense são algumas das cariocas que nasceram depois da azul e branco de Porto Alegre.

Em 1961, veio a grande mudança: a Academia de Samba Praiana. Fundada um ano antes, fez seu primeiro desfile, descendo a Avenida Borges de Medeiros, da esquina com a Salgado Filho até a Prefeitura de Porto Alegre, com uma parada na esquina com a Rua da Praia, onde ficava o coreto oficial das autoridades e do incomparável Rei Momo Vicente Rau. 

Era o tempo do "Carnaval Pepsi-Cola", todo patrocinado pela fábrica de refrigerantes. Havia coretos em quase todos os bairros e os grupos de desfilantes percorriam de ônibus fretados as madrugadas. A Praiana veio diferente, com enredo, alas, pequenos elementos alegóricos e a armação do desfile no formato que até hoje conhecemos. As demais também reinventaram-se a partir de então. 

A Borges ficou estreita, os desfiles mudaram de endereço várias vezes, ocupando a Cidade Baixa, região de origem da maioria das escolas de samba. Houve desfiles na ruas João Alfredo, João Pessoa, Loureiro da Silva, Augusto de Carvalho e, finalmente, no Porto Seco, onde estaria muito bem, se as estruturas definitivas de arquibancadas e camarotes já existissem. O monta e desmonta continua, mas isso não atrapalha o ardor da paixão pelo Carnaval.

Maiores campeãs do Carnaval de Porto Alegre

Os Bambas da Orgia e a Imperadores do Samba, com 21 títulos cada, são as maiores campeãs do Carnaval de Porto Alegre, desde o início dos desfiles do grupo especial em 1956. Depois delas, vem o Estado Maior da Restinga, com nove títulos, seguido da Academia de Samba Praiana, com cinco.

Como não poderia ser diferente, a dupla Gre-Nal também já rivalizou no carnaval. Em 2003, os Bambas foram campeões com o "No caminho uma bola, dentro da bola o sonho azul de um Grêmio vencedor", homenageando o centenário do clube tricolor. Já em 2009, ano do centenário Colorado, a Imperadores deu o troco e sagrou-se campeã com o enredo "Cem Anos de Glórias. Vermelho e Branco, Uma Só Paixão".

A  preparação do Carnaval de 2023

O Rei Momo, rainha e as princesas do Carnaval de Porto Alegre 2023 foram escolhidos durante o evento no bairro Sarandi que deu a largada para a maior festa popular da cidade. Luiz Pablo Gawlinki, da União da Vila do IAPI, foi eleito Rei Momo, e Virgínia Rosa, da Filhos de Maria, eleita Rainha do Carnaval. 

As princesas do Carnaval serão Andriele Paré Brum, também da União da Vila do IAPI, e Bruna Campos, da Fidalgos e Aristocratas. Os jurados também foram selecionados, confira eles:

  • Liliana Cardoso - Ativista cultural e representante da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC);
  • Mano Brum - Carnavalesco e pesquisador;
  • Mark B.- Repórter e apresentador da RBSTV;
  • Karine Gonçalves - Coordenadora do Carnaval de São Jerônimo;
  • Alex Maker - Maquiador especializado em pele negra;
  • Josiane Camila de Azeredo - Atriz e modelo.

Financiamento da folia é o novo desafio

Em reunião com representantes do Carnaval de Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo afirmou que o município destinará R$ 1,5 milhão ao fomento da festa da cultura popular de 2023, mas é preciso contar com parcerias e patrocínios para realizar o evento. 

Buscar financiamento de porta em porta, oferecendo ao doador uma página do Livro Ouro para assinar como benfeitor, está na raiz histórica de cada uma das entidades carnavalescas. Quando organizadas, com quadro social, buscam nas contribuições regulares a manutenção. E outra fonte de arrecadação sempre foi o ensaio, com a cobrança de ingressos e faturamento na copa.

Enredos patrocinados, cachês pagos pelas prefeituras e ainda recursos vindos de projetos culturais incentivados vinham sendo o modelo dos últimos 30 ou 40 anos. Muda o cenário outra vez. Raros casos de custeio oficial sobrevivem, e o futuro remeterá as escolas de samba à garimpagem de outros meios. Porém, apesar das dificuldades enfrentadas, o Carnaval de Porto Alegre vive e continua belo.


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