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“Saía um e vinha outro ”

"Casa de Praia": a história e o imóvel por trás da música sobre visitas indesejadas no litoral

Sucesso de Ernesto Nunes foi inspirado por residência que fica no balneário Lagoa Jardim, em Torres

17/01/2023 - 22h23min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Do excesso de visitantes espalhados pelos quartos — ou dormindo em colchões na sala — às despesas que ninguém concorda em dividir. A música Casa de Praia, do nativista Ernesto Nunes, detalha o incômodo de quem é proprietário de um imóvel no litoral. Lançada há 20 anos, a canção é renovada a cada novo play nas plataformas digitais ou nos shows pelo Rio Grande do Sul, e em especial na chegada da temporada de férias. 

De acordo com o cantor, os veranistas que se identificam com os versos se dizem "vítimas" de parentes que desaparecem nas demais estações do ano. A reportagem de GZH foi até o balneário Lagoa Jardim, no município de Torres, para conhecer a famosa residência que “se transformou num hotel de quinta categoria”, segundo a composição. 

A construção de alvenaria tem quatro quartos, três banheiros e possui tijolos à vista decorando fachada e colunas da varanda. Erguida há três décadas, a residência, hoje, tem menos público. 

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— Sabe que depois que eu gravei a música, o chapéu serviu pra um monte de gente? Parentes que dirigiam 600 quilômetros pra me visitar não apareceram mais — brinca o gaiteiro. 

Nunes conta uma história com ares de lenda, mas que ele jura ser verdade: outros moradores compraram seu CD para entregar aos visitantes indesejados, uma forma de educar o povo que não se manca. E não é que um companheiro da mesma rua da prainha tentou usar da estratégia? Sem sucesso.

— Eu colocava a música alta, achando que eles iam embora, mas era um povo tão cara de pau que decidiram ficar mais dias — recorda o advogado José Nelson Raupp, 67 anos, sobre as visitas que não conseguiu mandar embora.

A ideia transformar a rotina da casa em música partiu de uma conversa com amigos. Eles também compartilhavam relatos de dificuldade com os custos mensais da propriedade: água, luz, IPTU e reformas de manutenção. A “invasão” inesperada — e muitas vezes indesejada — garante boas risadas, principalmente para os que não têm esse problema.

Tiago Boff / Agencia RBS
Ernesto Nunes, que compôs a música há 20 anos, em frente à casa que inspirou a letra, no balneário Lagoa Jardim, em Torres

Nunca pensei que eu tivesse
família tão grande assim

primos, cunhados e tios
um parentesco sem fim

Vinham matar a saudade
gente que lá na cidade

nunca lembraram de mim 

Além de aumentar a despesa, o músico e a falecida esposa, Edimé da Silva Corrêa, companheira por quase 50 anos, precisavam servir a população que se mudava pra praia, situação relatada em outro divertido trecho:

Saía um e vinha outro
e a casa sempre lotada
areia por todo o canto
e roupa suja jogada
Minha mulher cozinhando
pra toda aquela cambada
todos comendo e bebendo
e ninguém pagando nada 

O artista chegou a lançar uma continuação da música, batizada de Eu Vendi a Casa da Praia. O fato, porém, nunca passou pela sua cabeça, garante, pois lá pode aproveitar as filhas e o neto — agora com mais sossego.

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Na manhã desta terça-feira (17), o músico residente de Caxias do Sul resgatou a memória dos ouvintes da Rádio Gaúcha, que relataram experiências semelhantes. Se emocionou ao saber da repercussão junto à audiência e até convidou a equipe da RBS para um churrasco.

— Mas não vão ficar muitos dias — ponderou.

Sentou no pátio e emendou a segunda versão da música, que inclui um amigo caxiense mais mão de vaca do que ele próprio:

Eu conheço em Caxias
um gringo muito legal
comprou a casa de praia

lá em Arroio de Sal
a "parentaia" desceram
na véspera do Natal
emendaram o Ano Novo
como fosse um festival
eu vi o gringo nos pranto
gritando "Ma Dio Santo!
vão ficar até o Carnaval"

A canção está no Spotify e no YouTube do tradicionalista. 

Confira a entrevista de Ernesto à Rádio Gaúcha:



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