Seu Problema é Nosso
Com tampinhas como "moeda", ONG realiza ações com pessoas em vulnerabilidade na Capital
Projeto foi criado em 2019 e tem as doações como uma das fontes para manter os trabalhos
Lanches e bebidas estavam sobre a mesa que a ONG Guerreiros dos Girassóis preparou, no dia 21 de dezembro, ao lado do Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Mas o que estava disponível ali, para um público formado por pessoas em situação de vulnerabilidade social, ia além dos alimentos.
— Nós levamos conceitos: da palavra, da conversa, do abraço — exemplificou a escritora Jane Lucas, idealizadora e presidente da ONG.
O encontro de Natal foi uma das atividades do projeto, criado em 2019 e mantido por doações e vendas de produtos próprios. Para os trabalhos que realiza, a ONG arrecada livros de literatura, material escolar e itens de higiene (como sabonete, escova e pasta de dente e aparelho de barbear). Também aceita ajuda de voluntários.
Ações de quarta
O grupo surgiu a partir da iniciativa de Jane e, hoje, conta com 103 voluntários associados, segundo ela. Mas nem todos conseguem se envolver diretamente nas atividades.
Às quartas-feiras, parte deles promove rodas de conversa e leva 250 refeições à região do Theatro São Pedro, além de itens de higiene e livros. Em alguns dos encontros, Jane realiza o que chama de terapias de rua — um momento de reflexão junto aos participantes.
"Compra"
Um dos diferenciais do projeto é que parte dos itens precisam ser "comprados" pelo público que participa. O pagamento? Tampinhas plásticas, que, após, são doadas a uma ONG que trabalha com bicicletas voltadas a pessoas com deficiência (PCDs).
A prática se alia ao que Jane define como objetivo maior da Guerreiros dos Girassóis: emancipação.
— Se você doar para nós uma camiseta, nós não vamos entregá-la na rua. Vamos "vendê-la" por tampinhas plásticas. A pessoa tem que fazer um movimento de trabalho: vai juntar as tampinhas e "comprar" a camiseta — explica.
O projeto também faz eventos em datas comemorativas, com os ingressos valendo tampinhas. Em algumas ações, na rua ou em lugares específicos em comunidades, as bicicletas são levadas para que as pessoas possam aproveitar.
Aniversariantes
Na festa do dia 21, além do Natal, foram comemorados dois aniversários. Um foi da voluntária Larissa Scherer Guterres, que completou 26 anos. Ela explica que a motivação para começar a fazer parte das ações, em 2019, foi a vontade de levar mais do que roupas e alimentos para quem participa do projeto.
— A carência da rua é essa: é alguém que venha para conversar, para trocar, para falar uma palavra amiga, ouvi-los — pontua.
O outro aniversariante era Paulo Renato Costa Barbosa. Aos 70 anos, contou que vai às ações em busca de alimentos e livros. Ele enxerga, porém, uma importância a mais nelas:
— Incentivam a continuar vivendo e a fazer amizades com outras pessoas.
Livros
A ONG também atua na criação de bibliotecas comunitárias. Hoje, são sete. O grupo leva de 500 a 1,1 mil livros para comunidades escolhidas — desde que alguém da região possa ficar responsável pela iniciativa.
Mas, além de fazer os livros circularem, a Guerreiros dos Girassóis já ajudou um frequentador das ações das quarta-feiras a publicar sua própria obra, chamada Velha Vida. O livro, de autoria de José Antonio Heck, foi lançado em 2020, ali mesmo, em frente ao Theatro São Pedro. Conhecido do projeto há cerca de três anos, José tem ajudado a trazer mais pessoas para participar.
Como ajudar
/// O grupo está em férias coletivas no momento. As atividades serão retomadas em 1º de março
/// A partir desta data, as entregas de doações podem ser feitas nas quartas-feiras, das 9h às 15h, na Rua Dona Augusta, 486, no bairro Menino Deus
/// Para futuro contato, confira o trabalho da ONG pelo Instagram (@guerreirosdosgirassois) ou pelo Facebook (facebook.com/guerreirosdosgirassois).
Produção: Isadora Garcia