Papo Reto
Manoel Soares: "Amor e ódio pelo nosso Rio Grande"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Eu tenho uma relação de amor e ódio com o Rio Grande do Sul. Calma, talvez no fim deste texto você concorde comigo. Foi no Acampamento Farroupilha que vi uma das cenas mais lindas entre pai e filho. Um pai estava, antes do sol nascer, ensinando o filho a fazer um chimarrão. Prometi a mim mesmo que, quando fosse pai, teria aquele tipo de amor pelo meu moleque. Mas também foi no Carnaval, na época que os desfiles eram na Orla do Guaíba, que tomei chicotada de um policial a cavalo que dizia que era hora de vagabundo ir para casa. Eu tinha 17 anos e estava sentado em frente à Usina esperando o táxi, passei quase dois meses chorando toda a vez que lembrava.
Assim é nosso Rio Grande, um Estado que tem a coragem de eleger o primeiro governador assumidamente homoafetivo do país, dando uma lição de democracia e maturidade, mas onde, ao mesmo tempo, policiais que servem ao mesmo governo colocam um saco na cabeça de uma mulher durante uma abordagem policial. Fora a violência das quebradas, onde aquela tradição de bandido respeitar a própria quebrada deixou de existir. Jovens trabalhadores precisam sair com um tênis velho para não chamar atenção e dentro da mochila ter um melhor para não parecer relaxado no trabalho. Tudo isso por medo de ser roubado pelos bandidos e medo de ser destratado no trabalho por estar com um tênis velho. Sei que essas contradições existem em vários Estados, mas, mesmo morando em São Paulo, ainda chamo o Rio Grande do Sul de casa, e ver nossa casa com essas contradições dói.