Perguntas e respostas
O que se sabe sobre a XBB.1.5, nova subvariante da covid-19
Já identificada no Brasil e dominante nos EUA, ela é a versão mais transmissível até agora
Uma nova subvariante do coronavírus que se espalha pelo mundo já se apresentou no Brasil. Batizada de XBB.1.5, a cepa foi identificada na quinta-feira (5) em uma mulher de 54 anos, no interior de São Paulo, mas seu estado de saúde não foi informado.
Segundo especialistas, a XBB.1.5 se alastrou pela Ásia e já é dominante nos Estados Unidos. Em pessoas devidamente imunizadas contra a covid-19, deve apresentar sintomas leves, mas pode evoluir para algo grave em quem não atualizou a carteira de vacinação, ou mesmo em idosos e imunossuprimidos.
Para tirar dúvidas sobre a subvariante, GZH pediu ajuda ao virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, além de coordenador da Rede Corona-ômica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e ao infectologista Alexandre Naime, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor e médico da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
O que já se sabe sobre a subvariante
O que é a subvariante XBB.1.5?
Desde a metade do ano passado, cientistas estão atentos à formação de uma série de recombinantes de variantes da Ômicron. Uma delas, que se formou provavelmente na Ásia, onde provocou uma série de surtos, é a recombinante XBB.
Segundo Fernando Spilki, essa recombinante é derivada de duas linhagens diferentes de Ômicron, a BA.2.10.1 e BA.2.75, que se misturaram. Esse processo de uma linhagem gerar ramificações, e delas surgir uma recombinante, é cada vez mais comum, diz o virologista.
— Quando as linhagens têm sucesso, vão se ramificando. O que temos hoje não é mais a Ômicron original, são centenas de linhagens. A mesma coisa vai acontecendo com cada um dos raminhos. Essa XBB acabou adquirindo mutações. Disseminou-se muito na Ásia, começou a emitir ramificações e, de repente, encontramos essa XBB.1.5. Agora, a XBB.1.5 é predominante nos Estados Unidos e na Europa — explica Spilki.
Qual é a diferença de uma variante e uma recombinante?
De acordo com o virologista, um genoma começa a fazer mutações e gera um genoma um pouco diferente. A isso se chama de variante ou de linhagem. Para ser mais claro, ele usa um exemplo didático:
— É como se um papagaio com penas verdes e vermelhas sofresse uma mutação e desse origem a um papagaio com penas verdes e azuis. A recombinante é o seguinte: vem um papagaio de outro lugar que cruza com esse novo papagaio. Gera, assim, um papagaio com penas furta-cor, algo completamente novo, porque há mistura de genomas. Voltando a falar de vírus, tínhamos duas linhagens que vinham evoluindo independentemente. De repente, elas infectam a mesma pessoa e o genoma que sai é uma mistura daqueles dois genomas. Aí, temos uma recombinante.
Qual é a variante predominante no Brasil hoje? A XBB.1.5 está predominando?
A linhagem predominante no Brasil, até o momento, é a BQ.1.1. Ela também foi muito forte nos Estados Unidos, inclusive sendo importante para a elevação de casos entre novembro e dezembro do ano passado. Ainda não é possível saber se a XBB.1.5 será a prevalente, mas a tendência é que substitua as cepas predominantes.
A XBB.1.5 é realmente mais transmissível?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta dizendo que essa subvariante derivada da Ômicron é a versão mais transmissível da covid-19 identificada até o momento, tendo sido registrada em 29 países.
O que faz parecer que, de tempos em tempos, as pessoas ouvirão falar de uma variante de covid-19 mais transmissível que a anterior, e é isso mesmo, frisa o o infectologista Alexandre Naime, já que intenção do vírus é seguir existindo — para isso, ele precisa fazer mutações.
— A XBB.1.5 é cerca de cinco vezes mais transmissível que a Ômicron, com potencial de contaminar mais, e já é responsável por mais da metade dos casos nos Estados Unidos. Estamos vendo uma sequência de subvariantes cada vez mais transmissíveis, porque essa é a intenção do vírus: transmitir cada vez mais para infectar um número maior de pessoas, e ir mutando e driblando o sistema imunológico — conta o infectologista.
A XBB.1.5. pode agravar a pandemia no Brasil?
De acordo com Spilki, é necessário aguardar para saber se haverá um aumento de casos provocados por essa nova cepa.
— Uma das possibilidades é que ela avance perante as outras variantes e faça o que já aconteceu em outros momentos da pandemia: um aumento no número de casos em fevereiro e março deste ano, sendo indutora de novos surtos. Mas é o tempo que irá dizer — pondera.
Segundo infectologista Alexandre Naime, a nova subvariante pode, no máximo, provocar um aumento no número de casos, mas, em regiões com altas taxas de vacinação, não vai ter aumento de internações e óbitos.
Como a XBB.1.5 age no organismo? Alguma diferença de comportamento, de sintomas?
A XBB.1.5 pode infectar até quem já teve infecções pela covid-19, incluindo a Ômicron.
— Essa variante tem capacidade de driblar o sistema imunológico. É uma linhagem que, além de ser mais transmissível, dribla os anticorpos de infecções prévias e das vacinas — diz Naime.
Mas não é uma variante associada a quadros graves de covid-19. Segundo Spilki, quem está devidamente vacinado com as doses de reforço deve apresentar sintomas parecidos a um resfriado. Ao contrário, quem está com as doses em atraso tem motivo para se preocupar.
— Essa XBB.1.5 tende a não causar, no geral, quadros tão severos, mas não quer dizer que não vai causar, especialmente em indivíduos com vacinação incompleta, indivíduos imunossuprimidos com vacinação feita há mais tempo e idosos em idade avançada — diz o virologista.
Embora os sintomas sejam leves em vacinados, não se deve subestimar a possibilidade de sintomas como apatia, perda de apetite, diarreia, dor no corpo e cansaço. Segundo Spilki, o problema de se assemelhar a um resfriado é que há uma tendência de as pessoas negligenciarem os cuidados, deixando de realizarem os testes e esquecendo de adotar medidas para evitar a disseminação.
As vacinas atuais protegem contra a XBB.1.5?
As vacinas contra a covid-19 têm o principal benefício de impedir o risco de hospitalizações e mortes pela doença, mas não impedem a infecção, lembra o infectologista Alexandre Naime. Portanto, é fundamental que as pessoas completem o esquema vacinal, incluindo as doses de reforço quando indicadas.
— Em ambiente onde a vacinação não está completa, sem doses de reforço, como na China, teremos problemas sérios de internações e óbitos. Aqui no Brasil, a XBB.1.5 recém se apresentou, mas provavelmente vai substituir outras cepas em circulação. Significa que precisamos fazer a vacinação em massa, principalmente garantindo as doses de reforço —alerta o infectologista.
Em que momentos a máscara é necessária hoje em dia?
Embora as máscaras não sejam mais obrigatórias na maioria dos ambientes, a sugestão é levar um acessório sempre junto, no bolso ou na bolsa, e colocar toda vez que entrar em um ambiente mal ventilado e com muitas pessoas e reunidas.
— Se entrar em um banco sem ventilação, coloca a máscara. Em um hospital, também é fundamental colocar a máscara, além dos ônibus. Saiu do ambiente? Coloca a máscara de volta no bolso e segue a vida — recomenda Spilki.
Pessoas que moram com idosos, imunossuprimidos e pacientes em tratamento contra o câncer também devem seguir tomando o cuidado para usar a máscara quando for adequado.