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Transporte público

Porto Alegre está com 111 linhas de ônibus a menos do que tinha antes da pandemia

Queda no número de viagens em dias úteis é de 40%. Passageiros reclamam de demora nas paradas; prefeitura diz que o comportamento do usuário mudou

23/01/2023 - 12h08min

Atualizada em: 23/01/2023 - 12h08min


André Malinoski
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Jonathan Heckler / Agencia RBS
Passageira aguarda pelo coletivo no Terminal Triângulo, na Zona Norte da Capital

Não são necessários cálculos matemáticos muito aprofundados para perceber a diminuição na oferta de linhas de ônibus em Porto Alegre. Atualmente, 260 linhas operam, enquanto em 2019 eram 371. Houve redução de 111 linhas na comparação com o patamar de antes da pandemia. Os efeitos se refletem na vida do usuário. Todas as pessoas ouvidas em terminais pela reportagem de GZH relataram demora, atrasos e tempo de espera de até 45 minutos pelo transporte coletivo.  

O secretário de Mobilidade Urbana da Capital, Adão de Castro Júnior, avalia que a pandemia mudou drasticamente o cenário do transporte público na cidade.

— A pandemia escancarou o problema em nível inimaginável, quando a gente teve aqueles lockdowns terríveis em 2020 e 2021. Tivemos que reduzir a oferta praticamente em 70%, porque não tinha mais demanda por passageiros devido às restrições e distanciamentos ocasionados — afirma o secretário, dizendo que os primeiros sinais de problemas no transporte público municipal começaram ainda em 2013.

Os dados disponibilizados pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU) comprovam a diminuição das linhas e do número de viagens. Até março de 2020, quando começou a pandemia em Porto Alegre, eram feitas 20.293 viagens em dias úteis. Atualmente, são realizadas 12.119. A diferença é de menos 8.174 viagens (queda de 40%).

Em relação ao número de passageiros, quando os dados entre 2019 e 2023 são comparados, é possível perceber uma diminuição significativa. Há quatro anos, eram quase 20 milhões de passageiros por mês. Hoje, são cerca de 14 milhões.  

— Há, evidentemente, a redução do número de passageiros. Mas isso não se traduz porque a gente reduziu a rede, mas porque realmente o passageiro não retornou ainda — esclarece o secretário, alegando que houve uma mudança de comportamento no usuário do transporte.

Em um período compreendido de oito meses, o número de usuários até cresceu. Quando foi lançado o programa da prefeitura Mais Transporte, em abril do ano passado, eram 13 milhões de passageiros por mês. No final de 2022, eram 14 milhões, ou seja, houve crescimento de 1 milhão de passageiros.  

Nesta sexta-feira (20), a reportagem esteve no Terminal Triângulo da Avenida Assis Brasil, na Zona Norte, um dos locais por onde milhares de pessoas passam diariamente para pegar ônibus. As reclamações eram sobre demora para a chegada dos veículos. Na região, são oferecidas 3.133 viagens em dias úteis, de acordo com a prefeitura.  

— Tenho observado uma demora de 45 a 50 minutos para o T-6 passar — compartilha a aposentada Alzira Corrêa, de 75 anos.

A auxiliar de serviços gerais em laboratório Inês Machado, 57, conta que costuma sair mais cedo do serviço para não perder o ônibus, que, além de estar sempre cheio, demora, às vezes, até 40 minutos para chegar, segundo ela.

— O T-7 é demorado e atrasa — atesta Inês, salientando que o problema atrapalha a conexão dela posterior, para Alvorada, na Região Metropolitana.

Em torno das 11h, era possível perceber algumas filas se formando, e os mais idosos sentavam nos bancos.

— Neste horário, é mais demorado — reclama a auxiliar de produção Vanessa de Quadros, 38, que diz ter ficado 45 minutos esperando um coletivo, recentemente.

O corretor de imóveis Fernando Hernandez, 50, é outro passageiro frequente. E revela o que testemunha na rotina:

— Tem demorado muito o T-1. Em horários assim (em torno de 11h), não vem. Outra linha é o T-9, que espero até 50 minutos, e não chega. As pessoas voltaram a trabalhar, mas as linhas de ônibus, não.

As comunidades mais vulneráveis enfrentam no dia a dia o problema de haver oferta menor de linhas em Porto Alegre. Pessoas que vivem distante de onde trabalham, conhecem as agruras da espera nas paradas.

— O problema é pior quando as crianças estão de férias, porque a gente fica horas e horas esperando o ônibus — relata a aposentada Rozeli da Silva, fundadora e presidente da ONG Renascer da Esperança, situada no bairro Restinga.

Conforme Rozeli, além dos atrasos, os ônibus apresentam problemas como sujeira e falta de ar-condicionado. Ela ainda cobra mais ações da prefeitura:

— E quando vem temporal e não tem um abrigo nas paradas da Restinga? A gente fica sentada nos bancos de ferro.

A aposentada chega a brincar com a situação quando está esperando o ônibus do trajeto Restinga-Glória (linha 216), definido por ela como “horrível” desde sempre.

— Fico até uns 40 minutos na parada. Sou obrigada a chamar Uber quando estou na parada da Estrada Costa Gama. Escrevo no chão: “Esperem sentados, porque de pé vocês vão cansar”. As pessoas dão risada — conta, dizendo que o Restinga Nova via Tristeza (linha 110) é outro ônibus demorado.

Na região do Morro da Cruz, os relatos são semelhantes.

— Não temos horário flexível para alguns trabalhadores que precisam do transporte até 1h ou 1h30min — lamenta o coordenador do Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC) do Morro da Cruz, Ubiratan Marquette, citando como exemplo pessoas que desenvolvem algum curso técnico no turno da noite e precisam descer na Avenida Bento Gonçalves, e subir o morro a pé.


O que diz a prefeitura 

O secretário municipal de Mobilidade Urbana, Adão de Castro Júnior, falou sobre as reclamações feitas por passageiros na Restinga, no Morro da Cruz e no Terminal Triângulo.

— Que as pessoas utilizem os canais pelos telefones 156 e 118 para reclamar. É muito importante. Todas (reclamações) são muito bem tratadas, isso é o principal. Quando as reclamações chegam, vamos olhar. No caso da Zona Norte, vamos colocar gente no Terminal Triângulo olhando isso, conversando com os usuários para entender o que está acontecendo. Se é uma situação pontual, de alguma obra que possa estar acontecendo em algum ponto, que pode estar causando atraso. Ou se é mesmo um descumprimento de tabela horária, que acarreta multa para quem está atrasando. Ou se é uma adequação que precisamos realizar. Isso a gente faz direto e pedimos para que as pessoas sempre reclamem nos canais 118 e 156. Porque as pessoas acham que não funciona fazer a reclamação, não vai surtir efeito. Não, muito pelo contrário. As reclamações são preciosas para nós. Todas elas nós olhamos e vamos verificar, e tentamos atender. Queremos ampliar o atendimento. Vamos ver também a questão da Restinga e da Cavalhada, que estão muito bem atendidas. Hoje, 90% das paradas de espera têm coberturas. Talvez seja uma situação pontual, talvez tenha quebrado ou sido removida a estrutura. Pode ser algum local que não tenha o espaço para se colocar a cobertura. Se temos a localização precisa, nós vamos lá identificar.



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