Todo gato gosta de rotina. Quem já trocou de endereço sabe, o bicho se esconde e pode ficar dias sem dar as caras. Quando decidimos aposentar o antigo guarda-roupas (ou o que os cupins haviam deixado em pé), a Ipa, a mais nenê dos quatro, quase nos matou de susto. Enquanto os marceneiros montavam o roupeiro, se enfiou na fronha e seguiu imóvel por horas. Já seus servos, nesse meio tempo, desencaixotando, desesperados, tudo que foi previamente dobrado com cuidado. O pandemônio na sala, e a bichinha dormindo no travesseiro.

Mari diz que a Ipa é minha favorita. Não vou endossar tal impropério. Negar? Também não. É que ela tem uma mania que me conquista: a paixão por meias sujas. De forma religiosa, a gata vai até o cesto, estica a patinha e engancha a peça fedorenta. Sai em velocidade pelo piso e chega ao destino, o pote de água. Eu ainda não entendi se o objetivo é matar a sede dos pares ou protestar contra o meu chulé. Quem tiver uma hipótese melhor manda no e-mail, tá ali no cantinho do jornal.

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Quatro é demais?

O trio que completa a alegria do nosso lar tem, cada qual, sua personalidade. Chico é o queridão: vai com todo mundo, recepciona na porta, rola pedindo atenção e desfere cabeçadas inofensivas — muito mais amável que o Zidane. Se bem que às vezes morde como o Suárez.

A Guinness ama tampinha, e viaja da cozinha aos quartos com o objeto entre os dentes. O mais engraçado, no percurso, são os sons: ela mia em sequência, uma espécie de buzinaço para proteger a encomenda de eventuais obstáculos. Vai que uma formiga se atravesse no caminho.

Única que não nos espreme no já apertado colchão, a Monalisa prefere descansar em cima da mochila, que, para agradá-la, óbvio, passou a ser guardada sobre a mesa de jantar. Carinho, na Mona, só quando ela pede, na lajota do banheiro ou na rede da janela, esfregando o bigode na corda.

Dá trabalho ter quatro gatos. Mas a vontade de adotar um quinto é maior.