Direto da Redação
Alexandre Rodrigues: "Gloria, um capítulo importante"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano
O Brasil ficou em luto na quinta-feira passada após a notícia da morte da apresentadora Gloria Maria. Rapidamente, imprensa e admiradores começaram a publicar homenagens. Não poderia ser diferente: em cinco décadas de carreira na televisão, Gloria sempre teve portas abertas para entrar nos lares brasileiros. Impossível esquecer do bungee jump na China, da “ganja” na Jamaica, ou do mergulho em águas congelantes da Noruega. No entanto, a jornalista deixou um legado que vai muito além das reportagens produzidas por ela.
Eu, como homem negro, busco aprofundar dia a dia a minha consciência racial, bem como estudar a minha ancestralidade. Gloria foi uma grande faculdade para mim e tantos outros profissionais da área de comunicação. Analisando melhor... a jornalista conseguiu furar a bolha, levando ensinamentos valiosos a todos que a acompanhavam.
Pioneira
Ela se orgulhava de ter sido a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos, que enquadrava o racismo como contravenção penal. Isso em 1970 após ser impedida de entrar pela porta da frente em um hotel no Rio de Janeiro por ser negra. Exercer o ofício exigia sangue frio. “Não deixa aquela neguinha chegar perto de mim” era a frase que costumava ouvir da boca do ex-presidente João Figueiredo.
Mulher potente. Sua voz deu voz! Se hoje podemos ver cada vez mais negras e negros em frente às câmeras, é porque existiu alguém que não baixou a guarda. Existiu e resistiu – sempre bom frisar. “Nada blinda uma mulher preta do racismo, nem mesmo a fama”, dizia ela, que ressignificou o microfone, tornando seu instrumento de trabalho uma arma poderosa. Privilegiados os que puderam a acompanhar em ação, e honrados os que futuramente ainda conhecerão seus feitos.
Sim, Gloria Maria é um capítulo importante. Divulguem essa história.