Quem tem criança pequena em casa não pode se dar ao luxo de relaxar completamente nas férias. Os olhos e a atenção precisam estar nos pequenos, já que um descuido é suficiente para que aconteça um acidente doméstico. No Hospital Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre e na Santa Casa da Capital, o número de bebês e crianças de até cinco anos de idade atendidos com queimaduras aumentou entre 20% e 25% nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, em comparação com o período sem férias escolares, segundo profissionais das instituições. 

O HPS da Capital é um centro de referência no tratamento de queimados para todo o Rio Grande do Sul. De acordo com o diretor técnico, o médico Ronei Anzolch, cinco dos 20 leitos de toda a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria pediátricas estão ocupados com pacientes queimados. A maioria tem entre um e dois anos de idade. 

— Muitos acidentes poderiam ser evitados se houvesse mais atenção aos ambientes e às coisas que as pessoas fazem de forma meio automática. Por exemplo, na hora de fazer o fogo para o churrasco, ainda mais se for com álcool ou gasolina, não fique com o filho no colo. Uma situação que está ficando mais comum: as pessoas cavam um buraco na areia da praia ou do camping e colocam a brasa do churrasco lá, ainda quente, sem fechar. Nós estamos com um paciente de dois anos com os dois pés queimados porque entrou em um buraco assim. Está estável, mas é queimadura de terceiro grau — explica o médico. 

Na Santa Casa, o que tem chamado mais a atenção são as queimaduras causadas por água quente, chamadas de escaldamentos, especialmente entre as crianças de até cinco anos de idade. A cirurgiã pediátrica e coordenadora do Centro Pediátrico de Queimados do hospital, Nicole Knorr Brenner, explica que, nesta fase, a curiosidade pode ser um perigo.

— Os pequenos são inquietos, vão querer pegar, colocar na boca. Isto é um perigo. Então, muito cuidado com a água quente para o chimarrão, para o banho. Não deixe as crianças sozinhas na cozinha. Use sempre as bocas de trás do fogão, para que elas não alcancem. Não carregue nada quente quando estiver com uma criança no colo. Cuidado com os fios elétricos e tomadas. Eu sei que é difícil, eu também sou mãe. Mas nós podemos afirmar que quase todas as queimaduras infantis ocorrem na presença de um adulto — afirma Nicole. 

Às vezes, conforme a médica, algo aparentemente inofensivo vira um perigo: 

— Teve um paciente que colocou a mãozinha em uma travessa com polenta quente. Outro grudou a mão na janelinha do forno. Uma menina puxou o fio da chaleira elétrica, que estava com água fervendo e caiu tudo em cima dela. Se a gente parar para analisar, todos os objetos estavam ao alcance das crianças. 

Os médicos alertam que as queimaduras em mãos, pés, órgãos genitais e vias aéreas costumam ser mais graves.  Enquanto o HPS de Porto Alegre atende casos mais graves, pelo SUS, o Centro Pediátrico de Queimados na Santa Casa recebe pacientes com queimaduras de leves a moderadas e atende por convênio e particular.

Dicas para evitar queimaduras

• A cozinha é local de risco. Mantenha a criança afastada e a porta sempre fechada
• No fogão, deixe as panelas com os cabos virados para dentro e nas bocas de trás
• Evite usar chaleiras elétricas, pois as crianças podem puxar pelo fio
• Não tome chimarrão, não faça o fogo do churrasco nem carregue nada quente com a criança no colo
• Ao fazer churrasco ao ar livre, como beira da praia, não deixe brasas expostas nem enterradas na areia. Leve para casa e faça o descarte correto
• Isole as tomadas com protetor ou coloque móveis na frente. Não deixe fios desencapados
• Não deixe velas ao alcance das crianças
• Verifique sempre a temperatura da água do banho do bebê e o calor da mamadeira

O que fazer imediatamente em caso de queimadura

• Coloque a criança ou pelo menos a parte atingida embaixo da água corrente, com temperatura ambiente, não gelada, e sem esfregar
• Não cubra o ferimento
• Não passe nada por cima, como pomada, pasta de dente. Atrapalha o atendimento médico posterior, pois tem que ser removido e causa mais dor
• Se não tiver água por perto, role a criança no chão para apagar o fogo
• Remove a roupa com todo cuidado. Se não der, não insista porque pode arrancar a pele. Deixe para o médico
• Após as medidas primárias, leve a criança o mais rápido possível para um posto de saúde ou pronto-atendimento