Ovnis e imagens
Luzes no céu e marcas no solo: a fazenda em Cidreira que se tornou ponto de observação para ufólogos do Litoral Norte
Propriedade particular fica às margens da Lagoa da Fortaleza, onde, reza a lenda na região, haveria um portal para outra dimensão
Os latidos e o choro da cadela Vênus pedindo atenção, seguido pela paralisação de dois relógios no horário das 23h, não foram suficientes para despertar a atenção de Márcia e Luis Carlos Moraes e de amigos, reunidos na propriedade do casal, na área rural de Cidreira, no Litoral Norte. Na manhã seguinte, porém, o filho dos visitantes percebeu uma imagem diferente gravada no gramado da fazenda, numa área sem iluminação à noite.
Três círculos de grama amarelada, distantes cerca de dois metros um do outro, formavam um triângulo no pátio. O fato ocorreu em março de 2018, e mesmo surpresos com a imagem, os Moraes e os amigos guardaram segredo durante dois anos temendo represálias. Hoje, a fazenda é ponto de vigília para ufólogos do Litoral Norte.
— Os círculos eram de grama seca, mas tinham um miolo com a grama bem verde. Pensamos em formigas, em algum tipo de material que pudesse ter caído ali, e não havia respostas. Para aliviar o que desconhecíamos, passamos a brincar sobre o fato. Mas aquilo ficou gravado na nossa memória — conta Márcia.
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A propriedade fica às margens da Lagoa Fortaleza, na direção contrária da praia das Cabras, no limite entre Cidreira e Tramandaí, onde supostamente haveria uma espécie de portal para outra dimensão. A área é conhecida pelos relatos de carros parando de funcionar por minutos na RS-786, onde estaria esta passagem, pessoas afirmando terem avistado objetos voadores não identificados (óvnis) sobre a lagoa e luzes desconhecidas movimentando-se no céu e desaparecendo misteriosamente.
Márcia, 56 anos, que é professora aposentada, e o marido Luis Carlos, 60 anos, engenheiro civil aposentado, dividem-se entre Porto Alegre e a fazenda de 18 hectares, que está na família há mais de cinco décadas. Ela recorda que o pai, Vitor Kinorre, falecido em 2012, chegou a presenciar em 2008 um evento estranho quando estava sozinho na fazenda. Ele relatou à família que numa noite, sentado na área da casa, viu se aproximar uma luz muito forte vinda da lagoa e que desapareceu ao chegar próximo dele e clarear todo o ambiente.
— Brincamos com o pai perguntando o quanto ele havia bebido para ver luzes. A gente brinca para não lidar com qualquer hipótese. Ele ficou insistindo que era verdade, mas não demos bola para aquele relato — comenta Márcia.
Dez anos depois, na noite em que a cadela latiu diferente e os relógios pararam de funcionar, o casal havia recém chegado da Capital. Por isso, não sabem dizer se as marcas já estavam na propriedade antes daquela noite diferente ou foram feitas na mesma data. O fato é que os círculos permaneceram no solo por cerca de um mês, mesmo com a grama crescendo ao lado deles.
Meses após o casal registrar em fotos os círculo na fazenda, o canal de televisão History Channel levou ao ar um episódio da série brasileira De Carona com os Óvnis, que descrevia os fenômenos ufológicos no Brasil, sobre o portal dimensional de Cidreira.
Márcia e Luis Carlos assistiram ao programa e sabendo da existência de especialistas em ufologia (estudos relacionados a objetos voadores não-identificados) no Litoral Norte, decidiram contatar o ufólogo Osmar Inácio da Silva, um dos mais renomados no Estado e falecido no final de 2022. Na época, pediram anonimato.
— O portal foi divulgado no documentário e em outros locais, começamos a cruzar informações e decidimos que era hora de tentar entender o que havia ocorrido — relata Márcia.
Osmar chegou a visitar o local e recolheu amostras do solo, ainda que as marcas já tivessem desaparecido. Somente dois anos depois, no final de 2020, o caso foi repassado para o então recém fundado Centro de Estudos Ufológicos (CEU) do Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
Centro de Estudos Ufológicos
Pesquisador do tema há quase 30 anos, o fundador do CEU, Daniel Christian, reuniu outros colegas do Litoral Norte para conhecer o local e o caso.
— O caso não teve uma resposta final. Apesar de jamais podemos dizer que nunca será solucionado, é muito provável que não ocorra outra situação semelhante na fazenda — esclarece Christian.
Ainda assim, o fundador do CEU decidiu iniciar vigílias no local, já que o ambiente permite um céu ainda mais estrelado por não ter iluminação próxima. Com a pandemia, a ação foi sendo postergada, até que em fevereiro deste ano, foi possível fazer a primeira no local. Christian estava acompanhado de outros dois entusiastas do assunto, o professor aposentado Renato Azevedo, 64 anos, que participa de grupos de estudos sobre óvnis há mais de 15 anos, e o técnico em enfermagem Naicon de Oliveira Santos, 39 anos.
A reportagem de GZH acompanhou a vigília, iniciada logo depois do anoitecer. Antes mesmo do trio se dirigir para as margens da lagoa, um episódio diferente ocorreu, surpreendendo a todos. Por volta das 20h, uma luz intensa surgiu dos fundos da fazenda na direção da lagoa, sumindo entre as árvores antes mesmo de ser registrada por quem estava no local. Não pareceu ser um drone, muito menos uma aeronave, pois voava em baixa altitude.
Logo depois, munidos de cadeiras reclináveis e colchonetes, o trio e a equipe de reportagem seguiram em meio ao breu na direção da lagoa. Renato manteve atualizados aplicativos que indicavam a movimentação de satélites e de aeronaves. Ele também carregava um laser que foi apontado diversas vezes ao céu, a cada nova movimentação de luz. Todas, no entanto, foram satélites. A ideia dos ufólogos é, a partir de agora, tornar as terras da fazenda um espaço para observação noturna do céu.
Atualmente, outros três casos de luzes no céu do Litoral Norte estão sendo apurados pela equipe do Centro de Estudos Ufológicos. O grupo também tem sido procurado por pessoas de diferentes partes do Brasil, como Amazonas, Rio de Janeiro e Bahia, por exemplo, que registram imagens de possíveis objetos voadores não-identificados.
Além disso, os ufólogos do Centro estão produzindo um estudo sobre as luzes misteriosas que, em novembro do ano passado, surgiram no céu de Porto Alegre. O relatório final deve ser divulgado no primeiro congresso realizado pelo CEU, em parceria com o Movimento Gaúcho de Ufologia, nos dias 15 e 16 de abril, em Garibaldi.