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Coluna da Maga

Magali Moraes: o céu e os fios

Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

13/02/2023 - 09h00min


Fernando Gomes / Agencia RBS
Magali Moraes

Coisa mais linda um céu azul, livre e desimpedido pra gente olhar e se sentir bem. Nem falo em ver a linha do horizonte, nas cidades grandes isso é luxo. Me refiro a um pedacinho modesto de céu, sem nada que interfira a visão. Esse é o problema. Como a gente faz, se tem cada vez mais fios de luz se multiplicando entre os postes de energia? Aqueles emaranhados horrorosos poluindo visualmente. Parecem grandes novelos de lã desenrolados e enozados criando um caos no céu.

Corre pra janela e vai espiar o pôr do sol? Tomara que em seu campo de visão não tenha os malditos fios de luz. Depois da chuva apareceu um baita arco-íris? Boa sorte se quiser tirar foto: sempre tem um punhado de fios testando nossa habilidade de enquadrar a cena sem que eles apareçam. As aranhas fazem teias perfeitas e geralmente discretas. Já o bicho homem tece teias enormes de fios pretos, azuis e vermelhos. Uns grossos, outros nem tanto. Mas todos unidos na feiura.

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Arcaico

Por que a fiação subterrânea não é algo acessível e comum no Brasil, como em outros países? Nem precisa responder: é mais barato (e arcaico) assim, dane-se a beleza urbana. O céu que lute. Com os fios escondidos embaixo da terra, finalmente poderíamos dar tchau pro festival de postes de concreto que conseguem poluir ainda mais as ruas. A gente só percebe a diferença que faz não ter fiação e postes aparentes quando visitamos algum lugar que já se livrou do enredado de fios.

Nem na praia se escapa deles. O céu azul também se esconde por trás desse emaranhado caótico imitando a cidade. Prefiro mil vezes as nuvens disputando a nossa atenção. De que adianta elas brincarem com a gente, nos fazendo enxergar formatos de animais e objetos do cotidiano, se mal conseguimos admirar o céu em sua pureza? Que você tenha o privilégio de olhar pro alto à noite e apreciar as estrelas. Porque na claridade do dia, o que mais se vê é a mão humana criando obstáculos visuais.



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