A praia de cada um
Muito trabalho e pouco mar: como é a rotina de um vendedor fantasiado de Homem-Aranha no litoral do RS
Rubem de Freitas faz a alegria da criançada pela faixa de areia de Tramandaí
Com uma fantasia de Homem-Aranha que cobre seu corpo da cabeça aos pés, tênis e uma pochete na cintura, Rubem de Freitas, 40 anos, enfrenta diariamente o calor para percorrer as faixas de areia do litoral gaúcho. No ombro, o vendedor super-herói carrega sua ferramenta de trabalho, que logo também chama a atenção das crianças pela praia: uma barra repleta de algodões-doces coloridos.
Esta é a ultima reportagem da série A Praia de Cada Um, que contou em oito matérias como pessoas de diferentes perfis aproveitam o litoral gaúcho. Veranistas e moradores da região compartilharam suas preferências e o que a praia representa em suas vidas.
Gaúcho de São Leopoldo, Freitas se mudou com a esposa para Tramandaí, no Litoral Norte, há cerca de quatro meses. Na cidade do Vale do Sinos, trabalhava com a venda de balas de goma no sinal. A fantasia de herói, segundo ele, já era usada por lá como forma de atrair os clientes.
— Uma vez fui para Santa Catarina e vi um homem vendendo bala de goma no sinal, vestido de Homem-Aranha. Aí eu disse: “vou comprar uma roupa assim e vou vender bala também”. Duvidaram de mim, mas cheguei em Porto Alegre, comprei a roupa e deu certo — contou o gaúcho, no final de um turno de trabalho, próximo à Plataforma Marítima de Tramandaí.
Antes da mudança, Freitas passou 10 anos vindo para Tramandaí apenas para trabalhar durante as temporadas. Costumava chegar em dezembro e voltar para São Leopoldo em março. Agora, decidiu ficar no Litoral definitivamente porque gosta da praia e consegue vender mais, devido ao grande movimento.
De acordo com o gaúcho, as vendas aumentaram nesta temporada, que é a primeira em que trabalha vestido como Homem-Aranha:
— Com certeza vendo mais vestido assim, está bem melhor do que nos outros anos. A fantasia ajudou muito e ela não é quente, é quase como vir trabalhar de bermuda e camiseta, é bem fresquinho. As pessoas pedem até para tirar foto.
Mas a rotina de trabalho no Litoral é intensa, tanto que Freitas nem tem tempo para curtir a praia. Ele costuma trabalhar de segunda a segunda, nos turnos da manhã e da tarde, sem folga. Vende cerca de 80 algodões-doces por dia, o que lhe rende uma boa renda para pagar o aluguel e se manter na nova cidade.
Quando se equilibrar financeiramente, o gaúcho pretende trazer a filha de dois anos para morar com ele e a esposa em Tramandaí. Por enquanto, a criança está com o sogro, em São Leopoldo.
— Não tenho tempo para curtir a praia, porque tenho que trabalhar direto. Mas aqui é bem melhor do que São Leopoldo. Gosto de trabalhar perto do mar, na beira da praia vendendo algodão-doce, gosto de ver a alegria das crianças ao me verem vestido de Homem-Aranha. É o ponto essencial, claro que eu preciso do dinheiro que ganho, mas a alegria e o amor que as crianças têm pelo Homem-Aranha na beira da praia, não têm como explicar, não têm preço — relatou Freitas.