Empreendedorismo social
Conexões feitas no Pacto Alegre geram investimento no Morro da Cruz e prêmio para estudantes da Lomba do Pinheiro
Na Escola Saint Hilaire, meninas criaram kit para vencer a pobreza menstrual; enquanto o primeiro Território Inovador, o Hub Formô receberá estrutura de ponta para conectar 70 empreendimentos da região
Na esteira do South Summit Brazil - que ocorre entre quarta (29) e sexta-feira (31) na Capital -, o Pacto Alegre, movimento colaborativo que desde 2018 une empreendedores, pesquisadores e governantes comprometidos com a inovação, planeja um ciclo de oficinas, palestras e eventos para mostrar ao mundo o que tem sido feito em Porto Alegre.
A partir de abril, um dos principais projetos do Pacto, chamado Territórios Inivadores, levará internet, computadores, iluminação pública e cursos qualificadores em áreas de tecnologia da informação para o Morro da Cruz, mais especificamente para o Hub Formô, na zona leste da Capital. A Agência Formô, que fica no bairro de 35 mil habitantes, com renda média de até 2,2 salários mínimos, atende cerca de 70 micro e pequenos empresários desenvolvendo pesquisas de perfil de consumo, planejamento e branding, mirando uma maior presença digital de quem produz de dentro do Morro.
Frequentador das reuniões do Pacto Alegre desde 2019, o empreendedor social Michel Couto, ex-vigilante, conseguiu transformar sua agência de comunicação em um hub (termo em inglês que pode ser traduzido em uma reunião de iniciativas) de inovação. Com parceria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e da Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa), Michel e seus vizinhos de comunidade receberão a infraestrutura necessária para conectar empreendedores, líderes comunitários e comércio local. A ideia é de que a proximidade entre eles gere ideias, reivindicações públicas e atraia investimentos para a região.
Este modelo de “hub” já é adotado no Quarto Distrito por meio do Instituto Caldeira - também fruto do trabalho de agentes inovadores conectados pelo Pacto Alegre.
— Temos um ambiente voltado para o desenvolvimento econômico da região, é algo que eu sempre vislumbrei para o meu trabalho. Esperamos que aconteça o mesmo que aconteceu no Quarto Distrito e na Orla do Guaíba, mostrar o potencial da região para atrair empresas que invistam aqui, qualificar e manter os trabalhadores aqui — afirma Michel, otimista com as perspectivas para o Formô.
Estas e outras ações do Pacto Alegre visam difundir ferramentas e condições para que toda a população seja capacitada a competir e produzir em um mercado profissional de novos parâmetros econômicos e sociais, explica o professor do Tecnopuc e especialista em inovação, Jorge Audy.
— O conjunto de fatores do desenvolvimento econômico e social mudou muito nas últimas décadas. Hoje, as cidades e países mais desenvolvidos, que melhor entenderam essas dinâmicas do desenvolvimento ambiental, social e econômico, são aqueles que investiram pesado na educação, na inovação, no empreendedorismo e na criatividade. São fatores de desenvolvimento que queremos estabelecer em Porto Alegre — detalha. — Não é um projeto rápido, estamos falando de criar ambientes de educação que rompam as bolhas, que considerem todo o 1,5 milhão de pessoas para este novo patamar de empreendedorismo. Queremos trazer desenvolvimento social, ambiental e econômico a todos os cantos da nossa Capital — complementa Audy.
Educação para a nova realidade social
Outro projeto bem-sucedido do Pacto, o Porto Alegre Cidade Educadora já rendeu um prêmio nacional a estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint Hilaire, da Lomba do Pinheiro, na Zona Leste.
O grupo de 20 meninas entre sete e 16 anos foi agraciado, na segunda-feira (27), com uma das seis menções do prêmio nacional do Desafio Liga Jovem, evento de startups no Bossa Summit, em São Paulo. Na amostra, considerada a maior sobre empreendedorismo social no Brasil, elas apresentaram um kit de saúde menstrual criado em oficinas conduzidas por professoras.
O kit é composto por absorventes de tecido, uma bolsa térmica com sementes para alívio das cólicas, uma peça de artesanato feita por mulheres da comunidade, além de um livro com informações sobre menstruação. O material é comercializado, cobre os custos e possibilita a doação de kits para outras meninas estudantes de escolas públicas na Capital.
"As estudantes não se conformavam em ver as colegas faltarem às aulas por não terem condições financeiras de lidar com a menstruação. Por isso, usaram suas habilidades para empreender socialmente e construíram um kit de saúde menstrual. Cada kit vendido possibilita que uma menina da nossa comunidade escolar ganhe um kit igual", explica a professora Maria Gabriela Pires de Souza, responsável pelo projeto, por meio de nota da comunicação da Secretaria Municipal de Educação (SMED).
A oficina de empreendedorismo social foi levada até o Saint Hilaire e a outras escolas da cidade, depois de ser apontada como uma das soluções para qualificar a rede de educação municipal em encontros do Pacto Alegre. Assim como o Cidade Educadora e o Territórios Inovadores, outros projetos promovem ações práticas para melhorar outros aspectos da vida da Capital e seus moradores.
— Precisamos desenvolver um novo modelo de educação e de trabalho, voltado para o atual modelo de juventude e sociedade. A educação é o principal fundamento para essa transformação que o Pacto Alegre quer para a cidade — comenta o professor Jorge Audy.