Coluna da Maga
Magali Moraes e o passar pano
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Sabe quando palavras conhecidas se juntam e ganham outro sentido? Se tornam uma expressão que todo mundo repete, sem parar muito pra pensar. A coisa pega, e esse novo significado acaba ficando mais forte que o original. Como passar pano: aquela tarefa corriqueira e positiva ligada à limpeza em geral. Antes a gente pegava um pano qualquer e passava na mesa, no chão, nos vidros. Seco ou molhado. Com ou sem detergente. Reparou como se usa o "passar pano" ultimamente?
Passar pano pra acobertar algo. Pra limpar a sujeira comportamental de alguém. Pra defender ou proteger quem errou. O esperado, inclusive, é não passar esse pano. Quer exemplos? Não passar pano pra pessoas racistas e machistas. Não passar pano e ser conivente com atitudes que você não concorda (ou aceita pra não se incomodar). Seria o novo "varrer a sujeira pra baixo do tapete"? Omitir a verdade, fazer vista grossa (olha aí outra expressão usual). Melhor não passar esse pano, hein?
Figurino
E tem mais. Passar pano dá um baita trabalho. Isso se passar como manda o figurino. Pro serviço ficar bom, a gente nunca passa uma vez só o pano. E passar pano seco nem sempre resolve. Tem que molhar, torcer, esfregar. Sujou? Molha de novo, torce, limpa, repete. Se for numa extensão grande, pega rodo ou vassoura pra passar direito esse pano. E no final, ainda deixa de molho o pano. Depois de tudo isso, o que se espera é a satisfação da limpeza. O cansaço bom. E não um sentimento ruim.
Conclusão: eu passo pano na casa quantas vezes for necessário pra ficar como eu gosto, e tenho passado pano como nunca. Mas me recuso a passar pano pra quem fez bobagem. O chão da minha casa limpinho, e a consciência imunda? Na política, passam pano a toda hora. No mundo das celebridades, é um tal de passar pano um no outro. E gente que nunca pegou num pano de verdade, olha a ironia. Passar pano é cansativo, tem que valer a pena. Não passe pano pra quem não merece.