Coluna da Maga
Magali Moraes e um pedaço do passado
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Quantas caras a sua casa já teve? Mudar os móveis de lugar, reformar o banheiro, comprar almofadas novas, inventar um cantinho, renovar a cozinha inteira, transformar a sala com vasos de plantas. Fazemos essas mudanças por desejo, necessidade ou inquietude mesmo. É mais fácil mudar cadeiras e enfeites do que hábitos e atitudes. Só que modificar um ambiente acaba nos modificando também. É como um ar fresco ou raio de sol que entram. Mudar é evoluir e seguir em frente.
Por outro lado, nem todo mundo gosta de mexer em time que tá ganhando: deixa como está, tem apego, se sente seguro assim, e a casa quase vira museu. Se conservar, nada contra. Louças que eram da vó estocam aconchego na cristaleira. Livros já com a capa amarelada são relíquias. Porta-retratos lembram as diferentes fases da vida. O corredor cheio de fotos forma a árvore genealógica da família. E cuidado com os souvenires de viagem. Se eles quebrarem, é a gente que fica em pedacinhos.
Tijolo
Sabe quando abre na parede um túnel pro passado? Aconteceu aqui em casa, e nenhum tijolo foi sacrificado. Um passado de mais de 15 anos, desde o dia em que mudamos pra esse endereço. A antiga cor verde da parede ressurgiu do nada. Lembra das mudanças por necessidade lá do primeiro parágrafo? Mudamos o split da sala e, apesar das medições, o tamanho do novo ficou um tantinho menor. Coisa mínima, que abriu um imenso portal de lembranças. Cor Verde Feito De Histórias.
Vamos terminar pintando, mas quero curtir um pouco. Para as visitas, é uma falha estética. Pra mim, é um afago na alma. Enxergo flashes nesse resto de tinta: duas infâncias felizes, nossas malas arrumadas pra muitas viagens de férias, os arranhões que fizemos ao passar apressados por ali. Ouço risadas e bocejos, me dou conta das incontáveis fotos que tiramos com essa parede ao fundo. Aniversários, churrascos, Natais, almoços do dia a dia. A gente vive muitas vidas numa só. Somos tinta fresca.