Coluna da Maga
Magali Moraes: sincronia do cotidiano
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Vizinhos que varrem suas calçadas na mesma hora, você já reparou nessa cena? É tão comum que não se presta atenção. Estamos sempre apressados, quem tem tempo pra observar o que nos cerca? Talvez nem essas pessoas percebam a sincronia cotidiana. O mesmo início do dia. Rotinas diferentes, mas com uma ação em comum. É o sol convidando a ser produtivo ou a previsão de chuva antecipando as tarefas. Como se houvesse um relógio invisível: na mesma hora, a varrição começa.
Vassouras em punho. Pás de cabo alto (senão as costas não aguentam). Baldes a postos pra receber as folhas varridas. Ou a lata de lixo que economiza etapas. Um bom dia é acenado de cabeça. Com sorte, um sorriso de canto de boca. Quando as vassouras se encontram nos limites da calçada, pausa pra comentar do calor. Depois seguem. O zelador do prédio varre metódico, do meio-fio pra dentro. A dona da casa da esquina varre um pouco lá e cá, a cabeça ao vento. Sopram pensamentos, folhas ficam pra trás.
Roupas
O vento! Conforme a intensidade, mais trabalho. Agora no outono, as árvores sincronizam e perdem juntas suas roupas. Ao longo do dia, continuam as sincronias do cotidiano. Pegar o elevador com os vizinhos de sempre, entre tantos. Chegar na mesma hora na parada do ônibus. As luzes que acendem nas casas. As mesas postas, os cheiros de cebola e alho fritando. Nos andares de cima e de baixo, o barulho de chuveiro ligado. Na madrugada, levantar pra ir no banheiro e ouvir outra descarga.
O dia a dia é cheio de pequenas coincidências que nos humanizam. Isso se estivermos dispostos a interagir. De que adianta molhar as plantas sincronizada com a vizinha, se ninguém se olhar nos olhos? Tem sincronias que marcam a vida. Duas pessoas que começam juntas um novo emprego, e ali surge um grande amor. Amigas que se reencontram após décadas porque cruzaram o corredor do shopping simultaneamente. Enquanto você me lê aqui, quem mais estará fazendo o mesmo?