Sob a sombra dos desastres naturais
Áreas de risco em Porto Alegre aumentam 19% em 10 anos, mostra levantamento da prefeitura
Divulgado nesta segunda-feira, documento é o primeiro elaborado desde 2013, quando 119 pontos foram mapeados; atualmente, são 142
O número de áreas consideradas de risco em Porto Alegre aumentou 19% nos últimos 10 anos. O dado consta em relatório divulgado nesta segunda-feira (3) pela prefeitura da Capital, o primeiro elaborado desde 2013, quando 119 pontos foram mapeados. Atualmente, são 142.
São consideradas de risco todas as áreas expostas a desastres naturais. O novo documento, elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil, aponta graus de risco "alto" e "muito alto" e a tipificação desse risco (veja a tabela completa ao final desta reportagem). A maioria dos locais identificados está nos bairros Arquipélago (15 pontos), Jardim Carvalho (10) e Lomba do Pinheiro (oito), e abrange maiores possibilidades de inundações (41), enxurradas (37) e deslizamento planar (20). Cerca de 20.800 famílias vivem sob o temor desses eventos, o que representa mais de 84 mil pessoas.
Uma das regiões classificadas como de risco "muito alto” é a Rua da Represa, localizada bairro Coronel Aparício Borges, na Zona Leste. A área fica às margens do arroio Moinho e costuma ser alvo de inundações em dias de chuva intensa. O relatório aponta que as residências no local estão submetidas ao risco de erosão do solo na margem do arroio.
Na última década, dois moradores da Rua da Represa morreram por conta de enxurradas. No caso mais recente, em agosto do ano passado, Daner Hernandez Silva, 45 anos, ajudava familiares a deixarem suas casas em meio a um temporal quando caiu na água. O homem foi localizado na manhã seguinte, no Lago Guaíba, próximo ao Anfiteatro Pôr do Sol. Já em junho de 2017, durante outro temporal, uma mulher foi soterrada por um deslizamento na mesma rua. Na época, ao menos 50 casas foram atingidas pela inundação. Carine Gonçalves teve sua casa arrastada pela chuva.
GZH esteve no local na manhã desta segunda-feira e constatou que, quase seis anos depois, o local onde ficava a moradia da vítima segue sem nenhuma construção. Ao lado, o detetizador Dagner de Oliveira Larriady, 33 anos, mantém uma casa de tijolos onde vive com a esposa e a filha. O local fica nas margens de um valão que dá acesso ao arroio. Diariamente, ele corta os galhos de árvores em frente à sua residência para que a água não acumule e cause inundações. Até hoje, nunca passou da porta, mas ele não descarta o risco de uma nova tragédia acontecer.
Líder comunitária da Rua da Represa, Maria Elisabete Marques Bones afirma que o problema das inundações aumentou de uns anos pra cá, à medida em que novas casas foram construídas e o descarte de lixo aumentou, afetando a fluidez do arroio.
— Toda vez que começa a chover, nós tentamos retirar os galhos, mas não tem muito o que fazer — afirma.
Medidas a serem implementadas
Segundo o secretário municipal de Habitação e Regulação Fundiária, André Machado, a prefeitura irá, agora, analisar as possíveis medidas a serem implementadas:
— Temos um desafio gigantesco pela frente. A meta é que não haja qualquer tipo de morte em razão de catástrofes naturais. No caso da Rua da Represa, nós caminhamos nos últimos dias para que um projeto seja construído, mas isso leva tempo. Precisamos identificar agora qual a necessidade emergencial de cada área, priorizando aquelas com o maior risco.
Entre as principais ações que devem ser implementadas pela prefeitura, estão investimento em obras de engenharia. O município ainda deverá avaliar a possível retirada de habitantes dessas áreas — embora, de acordo com o Diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), Oswaldo Luiz de Morais, a medida, praticada por diversos órgãos, não seja considerada a mais efetiva:
— As pessoas não vão morar em uma área de risco porque elas querem estar ali. Elas vão morar numa área de risco porque é a oportunidade que elas têm de encontrar um local no qual se sintam minimamente protegidas. Em que sentido protegidas? Pelo ambiente em que elas mesmo vivem.
O coordenador da Defesa Civil de Porto Alegre, coronel Evaldo Rodrigues Júnior, salienta que serão criadas coordenadorias nos locais afetados:
— Serão 17 coordenadorias da Defesa Civil para cada subprefeitura, para facilitar a comunicação com a população. A partir daí, vamos apontar os riscos diretamente para essas comunidades e por meio deste canal, criar planos de emergência para essas áreas.