Coluna da Maga
Magali Moraes e a vida de tesoura
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Preciso reconhecer a importância de uma tesoura dentro de casa. Uma mesmo, a faz-tudo, com mil e uma utilidades. Dedicada que só vendo, e disputadíssima por todos. Vai da cozinha ao pátio, do banheiro ao quarto. Não nega serviço. Não se entrega fácil. Não reclama porque, apesar de fazer de tudo, ainda não sabe falar. E nem seria recomendável. A lá de casa, por exemplo, iria me chamar de pão-dura e me mandar longe. De preferência, até o supermercado pra comprar mais uma tesoura.
É uma questão de praticidade, simples assim. Como é na sua casa? Confere essa minha teoria? Desconfio que donos de várias tesouras acabam usando sempre a mesma. A mais confiável, a que fica mais à mão. Seria tudo uma questão de localização? Na segunda gaveta do armário. Abriu, pegou, usou (desde que traga de volta o quanto antes). Uma tesoura esquecida em cima do sofá pode cair entre as almofadas. De ponta pra cima! Ou pior, ser dada como desaparecida.
Tempero
A minha guerreira corta papel, tempero da horta, folha seca das plantas, linha, cabelo, feltro, tecido, plástico, lã, embalagem dura. Desse jeito, não vai durar muito. E você sabe, uma tesoura que perde o fio perde a razão de ser. Aposentadoria forçada. Tomara que alguém saiba como afiar. Ou então, a tesourinha de unha vai cortar até papelão. Tirem as crianças da sala: suas tesouras de cabo colorido (se ainda estiverem na mochila escolar) serão sequestradas pra ajudar nos serviços gerais.
Quem mais sofre quando some a única tesoura da casa? As facas. Vão cortar o improvável. A de pão, que enfrenta a dureza dos pães dormidos, pode serrar corda e descobrir novos talentos. Aposto que vai sobrar até pro alicate de cutícula. Já o alicate de corte (com sorte) sairá da caixa de ferramentas pra ajudar. Mas essa alegria dura pouco. Tem que comprar outra tesoura, não adianta. Senão logo os dentes vão cortar o que não devem. Vida de tesoura é salvar a nossa vida. Obrigada a todas!