Coluna da Maga
Magali Moraes: ideias soltas
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Tava aqui pensando em novas maneiras de estocar coisas fundamentais que a gente perde com o tempo, e fazem falta no dia a dia. Mas nem sempre sabemos onde e como conseguir. Um mercado paralelo (e bem abastecido) de sentimentos e virtudes, já pensou? Alguém com paciência sobrando doa a quem não tem um pingo sequer. Otimistas e pessimistas se unem para equilibrar suas visões de mundo. Pessoas com excesso de autoconfiança fornecem esse item tão valorizado pra quem nasceu sem.
Enquanto as vitrines oferecem mais do mesmo (pra que mais um casaco?!), surge um comércio focado no emocional. Sentimentos pra dar e vender. Pode parcelar, aceita Pix. Bondade, alegria, euforia, compaixão, cumplicidade e empatia em todos os tamanhos. Imagina que bacana alguém que possui medo de tudo levar pra casa um pouquinho de coragem. E mesmo emoções ruins como a raiva, se utilizadas em doses homeopáticas, ajudam a tirar a apatia de quem não se emociona com mais nada.
Granel
Acho que eu começaria comprando três quilos de encantamento, pra ver quanto tempo dura. Assim a granel, pesando na balança. O afeto poderia viver em promoção. Pra facilitar a vida, embalagens já prontas e combos de sentimentos. Compre nostalgia, ganhe satisfação. Só hoje: perseverança em dobro. Quer pagar quanto por uma porção extra de calma pra usar no trabalho? Leve felicidade, entusiasmo e surpresa, o kit antitédio. Pra quem acha que já sabe tudo, tem dúvidas fresquinhas em oferta.
Esse mercado inovador de sentimentos e virtudes também poderia funcionar como brechó. Saudades lindas à venda. Pra que desperdiçar uma lucidez bem vivida, e ainda em ótimo estado, com tanto maluco precisando? Alegrias de uma vida inteira serviriam como uma luva pra gente tristonha. Até crianças com curiosidade e energia de sobra fariam negócio com adultos desmotivados. São ideias soltas, não sei se estamos preparados. Mas sempre é útil estocar o máximo possível de boas emoções.