Direto da Redação
Ricardo Düren: "Reflexões sobre o pós-Páscoa"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano
A semana após a Páscoa é sempre uma delícia. Não só pelas guloseimas que milagrosamente ainda sobrevivem nos ninhos, mas – ao menos no meu caso – pela tranquilidade de poder caminhar pela sala sem o risco de esbarrar na árvore pascal, que se apropria de grande espaço da casa já nos dias que antecedem a Semana Santa, para ser desmontada depois.
A árvore pascal é uma tradição adotada há um bom tempo pelas quatro gurias lá de casa (minha esposa e nossas três filhas). Consiste em um grande galho, repleto de bifurcações, no qual são penduradas casquinhas de ovos coloridas com tinta têmpera.
Logo, para produzir a árvore pascal é necessário que, ao longo da Quaresma, a família adote uma dieta à base de ovos. A frigideira não tem descanso. É ovo no café, no almoço e no jantar; frito, cozido, mexido; até que se reúna um bom número de casquinhas para colorir e pendurar nos muitos braços do galho.
Mas não pense o leitor que estou me queixando. Sei que os ovos são uma importante fonte de proteínas e reconheço a rica simbologia da árvore pascal: os ovos tradicionalmente representam vida nova, renovação; e a árvore, por si só, é também um símbolo de vida. A árvore pascal é um convite à reflexão. Contudo, sua presença na sala exige cuidados. Estabanados devem ficar longe dela.
Certa feita, em um descuido quaresmal, passei muito perto da árvore e – puff – várias casquinhas se estatelaram ao chão. Tentei ocultar as provas do desastre, mas não houve tempo: nossa caçula, Ágatha, flagrou-me enquanto eu recolhia os destroços. E ralhou comigo:
– Pai! Que tonguice!
Botei a culpa no Coelho da Páscoa, que certamente já andava por perto e bem poderia ter sido o responsável pelo estrago. Mas a caçula não engoliu a história:
– Aé? Se o Coelho já anda por aqui, onde foi que deixou os doces???
Ah… essas crianças…