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Com obra iniciada há quase 30 anos e parada desde 2012, Shopping Floresta aguarda retomada dos investimentos

Grupo Isdra afirma que têm planos para o imóvel na Avenida Cristóvão Colombo, mas recomeço dos trabalhos depende de movimentações do mercado; vizinhos vivem expectativa por valorização da área

10/05/2023 - 09h43min

Atualizada em: 10/05/2023 - 09h44min


Roger Silva
Roger Silva
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Anselmo Cunha / Agencia RBS

Idealizado na década de 1990 para ser um complexo comercial multiuso, o Shopping Floresta é ainda um bloco de concreto na quadra entre as avenidas Cristóvão Colombo e Mercedes e a Rua Félix da Cunha, na zona norte de Porto Alegre. As obras foram interrompidas e retomadas algumas vezes ao longo dos últimos 29 anos e atualmente estão paradas.

O Grupo Isdra, proprietário da área, afirma que o empreendimento passa por uma reformulação, mas garante que ainda há potencial e que a estrutura será aproveitada.

— Acreditamos que os próximos semestres possam apresentar um cenário mais favorável à construção civil, com possibilidades de crédito e investimento — projeta Eduardo Zacchia Isdra, neto do fundador e atual presidente do Grupo Isdra, que também detém a rede Master Hoteis e a Astir Incorporadora.

O prédio que abrigaria o centro comercial começou a sair do chão em 1994. Em 2003, reportagem de Zero Hora mostrou que 35 famílias residentes em um edifício vizinho sofriam com rachaduras e danos causados pela obra. Uma ação judicial chegou a embargar a construção do shopping, na época, e posteriormente resultou em indenizações a pelo menos uma moradora afetada. As indenizações determinadas pela Justiça aos vizinhos foram pagas, segundo o presidente do Grupo Isdra.

Entre 2012 e 2014, o Hotel Master Cosmopolitan, que dividiria estacionamento com o shopping, foi concluído, mas as obras na parte comercial do complexo foram paralisadas ainda em 2012 — e assim estão, desde então.

A ideia dos empresários era repetir ali a combinação de sucesso do Rua da Praia Shopping desde 1990, com operação comercial mista. Zacchia Isdra explica que a filosofia da empresa é tratar de cada empreendimento com cautela e visão de longo prazo.

Nos últimos anos, o foco de investimento era, além das indústrias Fibraplac e Isdralit, a consolidação da operação comercial no Nilo Square Hall. Em um futuro próximo, os moradores do bairro Floresta devem ver melhorias na Cristóvão, projeta o presidente do grupo. A curto prazo, a garantia é de segurança interna e manutenção estrutural do imóvel.

— Quem mora ali tem queixas maiores, claro, e o impacto visual existe, não tem como questionar. Gostaríamos de resolver esta situação hoje, mas não temos como. Isso nos frustra, pois nos preocupamos com a cidade e um dos propósitos do grupo é trazer impacto positivo para a cidade — diz o gerente de incorporação da Astir, Marcus Vanin.

Ainda que o estacionamento, parte do empreendimento, esteja pronto e funcionando ao lado do Hotel Master Cosmopolitan, as fachadas dos fundos e da lateral têm aspecto de abandono. A interrupção dos trabalhos fez o local ser usado como abrigo por moradores de rua, além de ser alvo de pichações e de acúmulo de sujeira.

Segurança do entorno preocupa

Em abril, GZH circulou pela região do bairro Floresta. A reportagem conversou com moradores e trabalhadores de diferentes ramos que transitam diariamente pela quadra. Além de queixas pelo abandono, surgiram expectativas positivas pelo andamento das obras, conclusão do shopping, ou até mesmo o aproveitamento da área para outro fim.

Lívia Trois, diretora da rede hoteleira, afirma que a situação foi pior em anos anteriores. Ela diz que houve uma atenção dos empresários em qualificar o trabalho da vigilância privada e manutenção física na via e jardins do entorno.

— O grande valor do nosso grupo é ser estável, agregar atrações à região. E isso tem um lado que demanda equilíbrio. O Cosmopolitan é o maior hotel da Capital, e seria beneficiado com uma operação de shopping ali — argumenta Lívia.

— Reforçamos tapumes e grades para evitar invasões, além das rotinas internas e externas de ronda feita pela segurança privada — complementa.

O gerente do Master Hotel Cosmopolitan, Fabiano Dornelles, recebeu a reportagem e mostrou o estacionamento que seria compartilhado entre o empreendimento e o shopping. Ele afirma que o espaço tem Plano de Prevenção e Combate a Incêndio, estrutura elétrica e hidráulica prontas, além de ter renovado recentemente o contrato de operação com a empresa Safe Park. São seis andares com vagas que vão desde a metade da quadra, com entrada pela Rua Félix da Cunha, quase até a frente, que fica na Avenida Cristóvão Colombo.

O hotel se ergue acima dos andares de estacionamento e terraço com restaurante e academia. De dentro do espaço para veículos, é possível enxergar os andares inferiores, onde funcionariam os três pisos do shopping. Lonas pretas cobrem os vãos que receberiam escadas rolantes. Pombas circulam livremente pelo espaço desocupado.

Anselmo Cunha / Agencia RBS
Vegetação crescida e aparência de abandono na fachada na Avenida Mercedes

Do lado de fora, a fachada, na Cristóvão, tem pichações e vegetação crescida. Colchões e cobertores dão indício da frequência com que moradores de rua utilizam a Avenida Mercedes como abrigo. A área que seria a entrada dos fundos do shopping é utilizada como estacionamento de rua monitorado por flanelinhas. O baixo movimento de pedestres é justificado por alguns entrevistados pela insegurança. Alguns dizer ter flagrado até mesmo tráfico de drogas na via.

— É horrível, não tem paz nem segurança. Rola tráfico de drogas, já apedrejaram a casa. Fiz abaixo-assinado há uns anos pedindo providências, mas nada mudou — conta Laura Dias, 23 anos, ex-moradora da Avenida Mercedes.

A situação de invasão de um dos imóveis é confirmada pelos proprietários. O Grupo Isdra tem sete casas na rua e diz que as outras seis não enfrentam o mesmo problema. Os invasores, segundo o grupo empresarial, são alvo de uma ação judicial de reintegração de posse.

A percepção da ex-moradora é replicada por quem apenas passa pela rua. O estudante do Ensino Médio Gabriel Dias, 15, caminha por ali no começo da tarde em todos os dias úteis, para ir à escola. Ele reforça que vê abandono do local e a presença de moradores de rua, mas não se sente inseguro.

— Um shopping aqui seria um baita empreendimento. É um bom lugar, uma região que vem sendo valorizada pelo comércio — comenta, referindo-se à intersecção entre o Moinhos de Vento e o Quarto Distrito.

Os diretores da Astir asseguram que não há invasões no interior da obra do shopping:

— É um problema delicado em toda a cidade. Quando há moradores de rua se instalando no local, nossos seguranças pedem para que não fiquem ali. Melhorou em relação a um ou dois anos atrás, e percebemos que há uma melhoria contínua — afirma Vanin.

Entre empreendedores, expectativa e insegurança

Do outro lado da rua, na Avenida Cristóvão Colombo, funcionários e uma cliente da Clínica Veterinária Águia convivem, de segunda a sábado, das 8h até as 19h30min, com a visão daquela fachada abandonada. Além de mencionar a circulação de moradores de rua e catadores, algo que se repete em outras regiões da cidade, dizem que os furtos são frequentes no local. Nos últimos invernos, quando a noite começa mais cedo, o horário de funcionamento do comércio é reduzido para garantir a segurança dos funcionários, eles contam.

— Há mais de 20 anos a gente ouve que seria um shopping, algo muito positivo para o comércio da região — lembra Leina Tremea, 35, cliente.

— Além dos assaltos na própria loja, às vezes vemos movimento de moradores de rua saindo lá de dentro — complementa a atendente Gabriela Moraes, 20.

Beneficiado pela parada na construção do shopping, o paraibano Jonatas Alves, 38, natural de São Bento, vende redes e mantas penduradas em um varal improvisado na grade em frente à obra. Desde dezembro de 2020 ele leva cores à fachada cinza, com produtos que variam dos R$ 50 aos R$ 200. Nestes dois anos e cinco meses, conta que apenas uma vez funcionários da prefeitura foram até o local fazer a capina da vegetação que avança sobre a calçada. Ele nega que exista movimento de moradores de rua ali, pelo menos enquanto ele trabalha no local, das 7h às 18h.

— Nem sei quem são os donos, tomara que não se incomodem comigo aqui agora — brinca o vendedor, surpreso com a informação de que as obras do shopping foram interrompidas há 10 anos.

Anselmo Cunha / Agencia RBS
Vendedor de mantas usa grade como varal para produtos

Carlos Alberto Boff e Carlos Augusto de Almeida, taxistas há 30 anos no ponto que fica na esquina da Félix da Cunha com a Cristóvão Colombo, comentam alguns boatos que justificariam a paralisação dos trabalhos. O ponto forte do movimento na região, segundo eles, são os clientes do hotel.

— Sempre trabalhamos aqui na expectativa por este shopping, melhoraria muito a região e o nosso movimento também — projeta Almeida.

Na esquina oposta, um funcionário do posto de gasolina que preferiu não se identificar alerta:

— O pessoal evita de passar à noite pela (Avenida) Mercedes, já ouvi relatos de assaltos por ali.

O que diz a polícia

Consultada sobre as queixas de moradores e trabalhadores da região a respeito da segurança, a delegada Rosane Oliveira, titular da 3ª Delegacia de Polícia, diz que há recorrência de uso de drogas na região, mas não reconhece que haja pontos de tráfico. Sobre ocorrências contra pedestres, ela diz ter poucos registros de roubos, seja a veículos ou ao comércio no local.

— Há uma queixa recorrente dos moradores. Por estarem com aspecto de abandonados (a casa ocupada e o shopping em construção), usuários de drogas acabam frequentando a rua — comentou Rosane.

Já as duas companhias do 9º Batalhão de Polícia Militar que trabalham no local afirmam que planejam as estratégias de policiamento ostensivo através da análise de dados de ocorrências. Segundo os comandantes, responsáveis pela 4ª Companhia, capitão Dall Agnol, e pela 3ª Companhia, capitã Roberta, a quadra em que GZH circulou não é vista como um foco de criminalidade, mas, mesmo assim, é alvo de rondas e fiscalizações rotineiras.

Leia o posicionamento do 9ºBPM sobre as queixas de moradores e trabalhadores da região:

As ações de policiamento ostensivo da Brigada Militar são planejadas a partir de estudos de análise criminal, desse modo são realizadas ações de policiamento a pé e motorizado, com o uso de viaturas rádio-patrulhas, com rondas constantes nesses locais questionados, com o objetivo de coibir crimes em geral, furto e roubo a pedestres, residências e estabelecimentos comerciais.

Além disso, realizam-se operações e barreiras de fiscalização de veículos de forma rotineira no bairro. As companhias realizam também ações de polícia ostensiva nos Postos Base, em locais, cujo estudo indica maior propensão ao acontecimento de delitos e para coibir o consumo e o tráfico de entorpecentes.

Por fim, não se verifica, conforme análise dos dados criminais do local, um foco de insegurança ou a grande incidência de ocorrências relacionadas a crimes contra o patrimônio e/ou de maior gravidade nos locais questionados.

As informações são dos capitães Roberta Drose Pires e Marcelo Dall Agnol, comandantes das companhias do 9BPM que atendem a região.


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