Em 1928, Getúlio Vargas assumiu o governo do Rio Grande do Sul e criou o Banrisul. No mesmo ano, no Rio de Janeiro foi fundada a primeira escola de samba do Brasil: a Deixa Falar. No Rio Grande do Norte, a jovem Alzira Soriano, 32 anos, tornou-se a primeira prefeita eleita no país, num período em que as brasileiras nem tinham o direito de votar. 

Foi também em 1928 que, nos confins do RS, nasceu minha avó materna. Ao menos é o que consta na certidão de nascimento. Ela garantia que havia sido registrada com alguns anos a mais. Brincávamos que a vó, a cada aniversário, reduzia a idade. E que ainda deveria ter 65 anos. 

Minha vó nasceu gêmea. As duas meninas eram idênticas. Deram a ela o nome de Herozilda e a outra chamaram Vitória. Nunca soube a origem do nome da minha avó. A única referência que localizei vem do idioma basco, no qual Herozilda significa heroico. Se foi essa a intenção de minha bisavó Dolores, acertou. Minha avó era mesmo uma heroína. 

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Pariu 12 filhos vivos – dez mulheres e dois homens. Minha mãe, Maria, e minha tia Fátima também nasceram gêmeas. Vieram ao mundo prematuras. Tão pequenas que cabiam numa caixa de sapato. Os médicos diziam que não sobreviveriam. Imagino a angústia de minha avó. Mas ela não descansou. Levou as duas para casa. Cuidou dia e noite, até ganharem forças. Sobreviveram. Cresceram. Tiveram filhos e netos. 

A vó criou também um punhado de crianças que apareciam em sua casa. Acolhia a todos. Foi mãe de muitos. Quando eu era criança, meu irmão adoeceu. Minha mãe passou um mês com ele no hospital em Porto Alegre. A vó cuidou de mim e da minha irmã Aline. Lembro das tantas vezes em que ela aparecia lá em casa para nos visitar. Da sua adoração pelo Roberto Carlos e pelas novelas. Era apaixonada ainda mais pela vida. Tinha orgulho das conquistas de todos que a rodeavam. 

Aos 94 anos, minha avó partiu deste mundo neste mês. Assim como cuidou, no fim da vida foi cuidada e amada. Obrigada por tudo, vó.