Coluna da Maga
Magali Moraes e as modernidades irritantes
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Precisamos falar das etiquetas de preço sem preço. Bateu o olho no produto e gostou, o que queremos ver logo depois? Quanto custa, pra saber se podemos comprar ou não. Mas ultimamente o que se vê? Um código de barras. Que retangulozinho impessoal e enigmático. Enquanto um número claramente exposto facilitaria a vida, o código de barras dá preguiça só de pensar. Isso porque a gente tem que se dispor a procurar onde colocaram a máquina pra ler o código. E se ela está funcionando.
É prático apenas pro dono do estabelecimento. Eu diria mais: não é um bom negócio. Posso apostar que o código de barras evita muita compra por impulso. O tempo que se perde pra descobrir o preço é um balde de água fria. A essa altura, a razão já calou a emoção. Uma etiqueta com números explícitos seduz, faz calcular prós e contras. Também afasta, o que não impede do tal valor ficar martelando na cabeça. Pior ainda é não colocarem absolutamente nada. Adivinhe o preço se quiser.
Balcão
Além do retangulozinho irritante, tem o quadradinho enervante: o QR code. Esse é onipresente. Está no balcão da loja chamando pro Pix. Está no tapume da obra (pegue o celular pra ler e seja assaltado na rua). Está na vitrine das lojas (zero poder de sedução). Está no folhetinho distribuído no sinal fechado. Está no lugar dos saudosos cardápios impressos de bares e restaurantes. Lembra quando a gente folheava as páginas de um cardápio delicioso pra abrir o apetite e salivar?
Agora se o celular estiver sem bateria, você vai passar fome. Tem que abrir a câmera e focar no maldito QR code pra descobrir o que comer. Tem que dar zoom pra conseguir ler tudo. Tem que abrir de novo porque pendurou. Tem que ler em voz alta pra alguém. Tem que ter wi-fi ou gastar os dados. Tem que ter paciência, isso sim. Adoro modernidades, mas especialmente essas me irritam porque sacrificam a experiência. Não queremos só comprar ou comer. Queremos curtir o momento.