Coluna da Maga
Magali Moraes: racismo e futebol
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Você já sabe, eu não entendo nada de futebol. E também não posso entender como _ em pleno 2023 _ ainda imitam som de macaco pra ofender um jogador em campo. Não deveria importar somente o talento, e não a cor da pele? O atleta está concentrado na bola, já sob pressão, e quem pagou ingresso se acha no direito de insultar esbravejando todo o seu racismo. Aconteceu domingo na Espanha com o Vini Jr, brasileiro que joga no Real Madrid. A ignorância nivela pra baixo o mundo.
Por isso a importância do vídeo do técnico Carlo Ancelotti, que viralizou essa semana e sensibilizou até quem não acompanha os jogos. Ao ser entrevistado logo após a partida contra o Valencia, ele se negou a comentar o resultado: "Você quer falar de futebol? Ou falamos de outra coisa? Eu não quero falar de futebol, eu quero falar do que aconteceu aqui. Isso é mais importante que uma derrota, você não acha?". Falou do racismo, mostrou a sua indignação e cobrou atitudes enérgicas da Liga.
Antirracista
Vai resolver tudo? Claro que não. Mas ele não ficou quieto e se posicionou. Lembra daquela frase muito repetida por aí, e que nem todo mundo entende? Não basta dizer que não é racista, tem que ser antirracista. Ou seja, criticar na mesma hora quem ofende ou desdenha. Não rir de piada com pretos e deixar sem graça o piadista, perguntando se ele percebeu o quanto foi infeliz. Se informar sobre as expressões racistas e cortar do vocabulário. Ter empatia e consciência, se reeducar pra educar os outros.
Ah se isso só acontecesse na Espanha e no futebol. Acontece em todos os esportes, países e continentes. Nas festas, nas escolas, nas empresas, na rua, no elevador, no silêncio de casa. Os racistas se disfarçam de gente do bem. São nossos amigos, vizinhos, colegas, chefes e familiares, somos nós às vezes. Que a fala do técnico do Real Madrid siga provocando reflexão e ações concretas. Racismo é crime. Além de ser desumano, deselegante e desnecessário.