A população de Porto Alegre foi surpreendida no começo do mês pela quantidade de lixo transbordando dos equipamentos da coleta mecanizada, sujando as calçadas da cidade. Segundo a prefeitura, os contêineres destinados aos resíduos orgânicos ficaram sobrecarregados em função de problemas com os caminhões envolvidos no serviço. A situação, que ocorreu em bairros como Rio Branco, Bom Fim, Menino Deus, Santana, Auxiliadora e Centro Histórico, se normalizou no domingo (21).

O titular da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb), Marcos Felipi Garcia, avalia o problema recente com os contêineres e antecipa quais serão os próximos passos da prefeitura em relação à coleta mecanizada, que existe na Capital desde 2011.

— Há a alternativa de continuarmos com o contêiner de lixo orgânico, mas com difícil acesso. Só haveria acesso para colocação do lixo. E a empresa teria acesso para o recolhimento — explica o secretário, acrescentando: — E ter o equipamento para lixo reciclável, mas também com difícil acesso.

A ideia é que sejam implementados contêineres com acessos menores, impossibilitando que uma pessoa abra completamente a tampa do equipamento e entre dentro dele, por exemplo — o que também ajudaria a coibir furtos de partes dos contêineres, que têm sido frequentes. 

Segundo o secretário, as alternativas têm como base experiências encontradas no Exterior, mas que precisam ser avaliadas dentro da realidade de cada bairro da Capital.

— Tem diversos modelos. O prefeito está na Itália e, inclusive, nos encaminhou alguns modelos. Estamos em busca do que há de mais moderno e eficiente dentro da realidade de cada bairro. Mas tudo vai passar por projetos pilotos e testes — pontuou Garcia.

Atualmente, a Capital conta com 2,4 mil contêineres em bairros localizados nas áreas mais centrais. O serviço abrange 19 deles, sendo 12 com atendimento integral e sete de forma parcial (confira a relação abaixo). O restante possui a coleta tradicional com o caminhão compactador, com o profissional atrás fazendo o recolhimento dos sacos de lixo. 

— A coleta de lixo é uma questão muito sensível da cidade. Qualquer descompasso desse serviço essencial causa enorme prejuízo para a cidade — afirma o secretário, citando situações semelhantes ocorridas recentemente em capitais como Paris e Roma.

O serviço automatizado equivale a aproximadamente 20% do volume total da coleta domiciliar da Capital. O Consórcio Porto Alegre Limpa é a empresa responsável pela coleta mecanizada. O serviço se iniciou em setembro de 2022 e o contrato tem duração de dois anos. Entre as obrigações estão a coleta por contêiner, a higienização e a manutenção dos equipamentos.

Porém, na prática, o que se vê é o lixo orgânico misturado ao reciclável dentro dos contêineres.

— Tem a má separação de lixo em alguns pontos, o acesso de catadores informais, o furto e o vandalismo, que acaba deixando o aspecto de sujeira ali — atesta o secretário.

Empresa foi autuada pelo Executivo

Durante o programa Gaúcha Atualidade da quinta-feira (18), o próprio prefeito Sebastião Melo chegou a estabelecer um prazo para a empresa responsável pelo recolhimento mecanizado do lixo normalizar o serviço. A reportagem de GZH apurou, nesta segunda-feira (22), que a empresa foi autuada pela prefeitura (o valor ainda está sendo estipulado). 

— O contêiner é exclusivamente para o lixo orgânico. Este é um dos primeiros problemas que encontramos — compartilha, mencionando que houve aumento durante a pandemia da Covid-19 de catadores e de carrinheiros em busca de material para reciclagem nesses espaços de armazenamento.

— Infelizmente, tem pessoas que ainda despejam material reciclado ali, o que atrai o catador, principalmente nos bairros mais próximos à região central, como Cidade Baixa, Menino Deus e Santana — diz Marcos Felipi Garcia.

Por problema semelhante de mistura de lixo, a prefeitura decidiu, em 2021, recolher os 50 contêineres verdes das ruas do Centro Histórico. Os equipamentos integravam o projeto-piloto de coleta mecanizada dos recicláveis, iniciado em 2018, durante a gestão do então prefeito Nelson Marchezan. 

Na ocasião, o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) justificou que a iniciativa não deu certo por causa do descarte irregular de lixo reciclável nesses recipientes.

— Vamos observar, em cada parte da cidade, como essa região se comporta melhor para cada tipo de recolhimento. Hoje, retirar o contêiner do lugar onde está talvez tenha impacto para aquela comunidade — reflete.

Além desses problemas, reportagem de GZH mostrou que Porto Alegre teve 60 tampas de contêineres de lixo furtadas em cinco dias. Desde o início do ano, cerca de 730 equipamentos foram danificados em ruas da Capital.

— Falta uma sensibilização. É uma questão de escolha do cidadão. É ele, entre uma lixeira e outra, que deve colocar o lixo no local adequado — conclui o secretário.

Saiba mais

Denúncias sobre descarte incorreto de lixo nos equipamentos mecânicos e outras queixas podem ser feitas pelo aplicativo 156+POA ou pelo telefone 156. Colocar material reciclável nos contêineres é considerado infração grave e pode gerar multa de até cerca de R$ 3,7 mil.

Serviço da coleta automatizada

• O que deve ser colocado nos contêineres: Lixo orgânico como cascas e restos de frutas e legumes, sobras de comida, papel higiênico e fraldas descartáveis usadas, guardanapos e toalhas de papel sujas, plantas, restos de podas e varrição, pó de café e erva-mate.
• Bairros atendidos totalmente: Auxiliadora, Bom Fim, Bela Vista, Centro Histórico, Cidade Baixa, Farroupilha, Higienópolis, Independência, Moinhos de Vento, Mont'Serrat, Praia de Belas e Rio Branco. 
• Bairros atendidos parcialmente: Azenha, Floresta, Menino Deus, Petrópolis, Santa Cecília,  Santana e São João.
• Horário para descarte: 24 horas por dia
• Dias da semana que ocorrem o recolhimento: Podem ser consultados aqui.
• Mais informações sobre a coleta automatizada neste link.