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Ricardo Düren: "Milagre de São João"

Todas as quartas-feiras, jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

07/06/2023 - 17h31min


Agência RBS / Agência RBS
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Ainda hei de levar a turminha lá de casa para passar uma noite de São João em Linha Carijinho, uma localidade rural e pacata de Sobradinho, município de colonização italiana encravado na região serrana do Vale do Rio Pardo. Não sei se  vou já neste ano, mas um dia  desses ainda vou. 

O passeio até Sobradinho, margeando penhascos por uma estrada sinuosa, já é um espetáculo à parte. Mas o ponto alto, quando se chega à Linha Carijinho na véspera  do dia de São João, é um rito que  surpreende os visitantes há quase  um século: a caminhada sobre as  brasas da fogueira junina.

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Não que eu esteja cogitando fazer um desfile épico sobre o braseiro – o plano é ficar só olhando. E segurando firme as crianças, para que não tenham nenhuma ideia maluca. Em Linha Carijinho, a caminhada sobre as brasas é missão exclusiva dos chamados passadores, gente que se especializou na ardente caminhada. 

E, ainda que seja encarada como uma demonstração de fé, a passagem sobre as brasas, por via das dúvidas, é feita sob o olhar atento de bombeiros e socorristas. Até a fé pode falhar. Portanto, não me invente de fazer isso em casa depois de uns goles de quentão.

Contudo, é fato que os passadores atravessam o solo incandescente sem dar um “ai”. O feito intriga os mais céticos, que buscam toda sorte de explicações racionais para o fenômeno. Dizem que o frio da noite ameniza o calor das brasas, que os passadores cruzam muito rápido sobre o fogo, que têm os pés enrijecidos pelo trabalho duro na lavoura. 

Mas a versão que mais me agrada é a dos habitantes de Linha Carijinho: a passagem sobre as brasas, dizem eles, é um milagre de São João.

Por isso, já propus à turminha de casa que fossemos até lá para a noite de São João. Nossas três gurias sempre gostaram de festas juninas – dos vestidos rendados, das danças, da tapioca e do milho verde. Porém, diante do convite, quiseram saber se em Linha Carijinho também havia o milagre do wi-fi.

Ah, essas gurias são fogo.



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