Direto da Redação
Claiton Magalhães: "Uma moeda e seus dois lados"
Jornalistas do Grupo RBS opinam sobre temas do cotidiano
Você já percebeu que o sentimento de um torcedor quando seu time perde um jogo é exatamente igual ao do seu rival que está na mesma situação? Não importa a cor da equipe, são as mesmas frases, a mesma dor, as mesmas reclamações. Uma cantilena muito parecida uma com a outra. Era o juiz que estava roubando, o dinheiro que manda, a sorte do atacante rival, que chutou com a canela e a bola desviou no morrinho artilheiro.
Se meu time perde, não ouço rádio, não falo com a família. No ônibus, vou e volto para o trabalho com os fones enterrados nas orelhas. Escutando Milionário e José Rico no talo. O adversário, que torce para o time de cor diferente faz o mesmo. Claro, deve ouvir outro estilo musical, o MC Cabelinho, talvez, mas a cara fechada é a mesma.
Campeonato
E quando o time do coração do torcedor ganha? De novo, as mesmas reações de ambos os lados. O sujeito vira um gentil no ato. Dá bom dia à caixa do supermercado. Procura com o canto do olho o vizinho que é fã do time rival. E se encontra, abre logo um sorrisinho debochado, como quem diz: “Já leu os esportes no Diário Gaúcho hoje?”.
Se o outro puxa assunto, reage de forma indiferente, diz que seu time está melhorando, que tem muita coisa faltando e coisa e tal. Mas por dentro está que é um leão: “Sofre, secador, esse ano vai ser nosso, vamos ganhar tudo”.
Todas essas reações são até compreensíveis no futebol. Um ambiente de pura paixão. Mas o pior é quando acontece na política. E olha que acontece bastante. É sempre o outro partido que é o cão, que não presta. E na política da associação de bairro, do condomínio, do diretório estudantil também é a mesma coisa.
Um dia essa moeda de sentimentos na política vai reunir seus dois lados. Certo que essa união iria render mais escolas, mais empregos, mais saúde. Mas esse talvez seja assunto para um outro campeonato, que esse ano vai dar meu time e não tem para ninguém.