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Impasse ambiental

Construção de rua coberta provoca corte de árvores em Gravataí, e Ministério Público notifica prefeitura

Moradores criticam a transformação de praças centrais em canteiro de obras

18/08/2023 - 11h05min

Atualizada em: 18/08/2023 - 12h42min


Fábio Schaffner
Fábio Schaffner
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Anselmo Cunha / Agencia RBS
Transformação da paisagem, antes verde e arborizada, num canteiro de obras descampado e repleto de buracos, gerou polêmica e preocupação entre os moradores

A construção de uma rua coberta em Gravataí, na Região Metropolitana, provocou a extração de dezenas de árvores das principais praças do município. A transformação da paisagem, que antes era verde e arborizada, em um canteiro de obras descampado e repleto de buracos gerou polêmica e preocupação entre os moradores.

As árvores foram retiradas pela empresa Praça Mall Ltda, vencedora da licitação que concedeu a administração do espaço. Prevista para ser inaugurada até o final do ano, a rua coberta compreende o trecho da Rua Prefeito José Link que interliga as praças da Bíblia e Dom Feliciano.

No local, serão montados quadra poliesportiva, playground, academia ao ar livre e palco multiuso, além de 30 empreendimentos gastronômicos e comerciais. O investimento total na reformulação está orçado em R$ 4,6 milhões.

Na licença ambiental em que autorizou a obra, a prefeitura permitiu a extração de 104 árvores do local. A retirada da vegetação abriu um clarão na parte central dos dois quarteirões, dando à futura rua coberta a aparência de um corredor devastado.

— Eu morei a vida inteira aqui perto, cresci brincando nessa praça, correndo entre as árvores. Aqui era o meu quintal, com árvores nativas, frutíferas, todas frondosas. Fico triste e assustada com o que está acontecendo — comenta a professora aposentada Ivana Ourique.

Com sede em Cachoeirinha, município vizinho, a ONG Mato do Júlio foi chamada por moradores de Gravataí para analisar a retirada das árvores. Usando um drone, integrantes do coletivo ambientalista fizeram imagens aéreas das duas praças, veiculando nas redes sociais as fotografias do espaço antes da obra e depois.

— Essa comparação impacta demais e gerou essa indignação toda. A gente pretende procurar o Conselho Municipal do Meio Ambiente para ver se há algo a ser feito para amenizar a situação — diz Alan da Costa, membro da Mato do Júlio.

Na última terça-feira (15), o Ministério Público notificou a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, solicitando informações sobre o corte das árvores, como a existência de autorização e previsão de compensação ambiental. A prefeitura tem 30 dias para responder.

De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, Diego Moraes, a pasta licenciou e fiscaliza a obra, sempre observando todas as regras previstas na legislação.

— A gente entende algumas manifestações, as pessoas criam vínculos com a praça, mas tudo foi feito respeitando as leis ambientais. Trabalhando em conjunto com a empresa reduzimos o número de árvores extraídas e estamos com um programa de arborização em toda a cidade. Já plantamos mais de 800 mudas mês passado. Mas para que a obra saia do papel, alguma supressão tem de ser feita, não adianta — justifica Moraes.

Responsável pelo empreendimento, o sócio-proprietário da Praça Mall, André Busnello afirma que a empresa verificou cada uma das 104 árvores cuja supressão foi autorizada, retirando no total 64 delas. Mudanças no projeto, como a alteração do local onde seria construído o anfiteatro, teriam permitido a permanência de ao menos 30 árvores. Além do compromisso de plantar 15 mudas para cada árvore extraída, ele garante que ao final da obra haverá embelezamento do espaço, com novas espécies nativas e ornamentais.

— Das 104 que nos autorizaram tirar, quatro não existiam mais e seis foram transplantadas. Conseguimos manter 30 fazendo ajustes no projeto e o restante foi retirado. A gente não gosta de fazer, é ciente do impacto, mas é necessário para revitalizar o local. Não havia um metro quadrado de grama naquelas praças, o chão era todo de pedra e muito úmido, praticamente não batia sol — diz o empresário.


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