Direto da Redação
Felipe Bortolanza: Vida de (mãe de) goleiro
Jornalistas do Grupo RBS opinam sobre temas do cotidiano
Campeonato de futebol sub-13 rolando, gurizada correndo atrás da bola, treinadores berrando instruções, pagode pegando na turma que ocupava a quadra ao lado. Lá pelas tantas, naquele silêncio inesperado, que dura segundos, mas que sempre se forma em meio ao alarido de um gol, uma voz feminina ecoa ao lado do alambrado:
– É dura a vida de mãe de goleiro.
A frase tocou até os que ainda mantinham no rosto a alegria de ver seu time abrir o marcador. O lamento daquela mulher, de tão sincero, constrangeu os pais até do menino que fez o gol, aproveitando a falha do camisa 1. Pior: ela estava filmando tudo com o celular. Deletou na mesma hora em que desabafou pela segunda vez no mesmo minuto, colocando o celular no bolso:
– Como pode tanta gente vibrar com a tristeza do meu filho? Custa ter compaixão?
A cena narrada assim pode até parecer mais triste do que foi. Em seguida, a mãe-torcedora já ria e se divertia com amigas. Mais do que um gol feito ou levado, importava a alegria de todos os guris que tinham um domingo de sol e uma bola para curtir.
Centroavante
Claro que é mais ingrata a situação do goleiro (e de sua família) na comparação com o centroavante. Quem joga no ataque, perde várias chances, mas basta uma bola na rede para se consagrar e ter seu gol postado nas redes dos país, avós, tios. Já quem escolheu usar luvas, pode até fazer milagres, mas uma bobeira pode custar um resultado, um título. Rede social de quem tem filho goleiro é repleto de defesas. Quem tem filho artilheiro, jamais posta bola na trave ou bico para fora.
Não sigo a mãe que me inspirou para fazer esta crônica. Mas tenho certeza de uma postagem sua. Apesar da falha, seu filho foi eleito o melhor goleiro do torneio. Ao ouvir o nome dele sendo anunciado para receber o troféu, lá estava ela filmando o momento. E com sorriso que combinaria com outra frase:
– Vida de mãe de goleiro tem suas alegrias também!