Coluna da Maga
Magali Moraes: a chuva e o muro
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Não existe outro assunto possível pra quem mora aqui no Estado: a quantidade absurda de chuva nas últimas semanas, e a água que não deu trégua nos últimos dias. É o setembro mais chuvoso da história de Porto Alegre. Recorde que não traz alegria, apenas tristeza. Como se não bastasse o Vale do Taquari ainda se reerguendo após as recentes enchentes, dessa vez as inundações atingiram a Região Metropolitana e nosso amado Portinho. Viva o Muro da Mauá, nunca pensei que diria isso.
A quarta-feira 27, que seria mais um dia de temporal, ficará marcada por cenas desoladoras. O dia em que o Rio (opa, Lago) Guaíba avançou pelo cais e a Avenida Mauá. O dia em que precisaram fazer uma barreira de sacos de areia pra conter as águas ultrapassando as comportas fechadas. O dia em que a maravilhosa Orla perdeu o contorno e virou uma extensão do Guaíba, invadindo as quadras esportivas, os passeios e quase cobrindo as árvores. O dia caótico que terminou com pôr-do-sol.
Impotentes
Quanto mais imagens vemos dos estragos de tanta água acumulada, mais nos sentimos impotentes. O quanto disso poderia ter sido evitado? Eventos climáticos extremos combinam com filmes catastróficos na TV, não com a realidade. Alagaram as ilhas, parte da Freeway, várias ruas da Zona Sul e deu onda forte na praia de Ipanema. De novo, muitos gaúchos perderam tudo. Fora os que permanecem até na escuridão pra proteger o que sobrou do patrimônio, como os moradores de Alvorada.
Cresci ouvindo a minha mãe falar da histórica enchente de 1941, ano em que ela nasceu e acabou virando um marco na sua vida. Agora, 2023 detém a maior cota de inundação desde lá. Após esse setembro, o que vai acontecer com o Muro da Mauá? Cai ou não cai? Preciso fazer uma sincera homenagem a esse desacreditado, praguejado e mal-amado concretão que salvou o centro da cidade. Bonito, ele nunca foi. Há poucos anos, ganhou uma maquiagem. Mas definitivamente provou o seu valor.