Coluna da Maga
Magali Moraes: dias porteños
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Recentemente, passei oito dias na Argentina visitando uma cidade que adoro: Buenos Aires. Não foi a primeira vez, mas foi a primeira ida depois da pandemia. Tanto pra rever e pra descobrir. Nessa semana esticada lá, dois assuntos daqui prenderam minha atenção: a absurda invenção do Dia do Patriota (que vergonha, que fiasco) e o coração novo do Faustão (que deu o que falar). Antes das redes sociais, era mais fácil desligar de tudo durante uma viagem. Hoje, não mais.
Nesse mesmo período, notícias mostravam supermercados sendo saqueados em várias cidades argentinas - inclusive nos arredores de Buenos Aires - por causa da altíssima inflação e da crise econômica. Óbvio que a vida não tá fácil pra grande maioria dos hermanos, mas circulei bastante pela cidade e não vi nada perigoso. Me senti mais segura lá, caminhando noite e dia, do que aqui. Todo mundo tranquilo de celular na mão. Em Porto Alegre, se vê muito mais pessoas em situação de rua.
Desfrutar
Mesmo com crise, parece que os porteños sabem desfrutar o dia a dia. Esse é um verbo que eles usam direto, e desfrutar passa bem a sensação de saborear o momento. A turistada aproveita o câmbio favorável. Os locais (especialmente os mais velhos) desfrutam as ruas, os cafés com mesinhas na calçada, o sol batendo no rosto, as livrarias maravilhosas, os inúmeros parques. Lotam restaurantes que não estão nos guias turísticos. E seguem idolatrando o Messi, o Maradona, o Papa e a Mafalda.
Voltei me perguntando por que eu não desfruto tanto assim a minha cidade. É a rotina que prende? A insegurança das ruas que inibe? Aqui também tem museus (que pouco visito, mas agora irei), tem assados e vinhos, feiras de antiguidades, shows, muitos lugares pra rever e novos pra descobrir. Acho que o mais legal de viajar é enxergar outras realidades, fazer comparações, viver alguns dias num ritmo diferente (o nome disso é férias) e voltar pra casa com um olhar mais atento.