Papo Reto
Manoel Soares: "Luísa e Heloísa"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Essa semana a cantora Luísa Sonza foi tema em todos os programas de televisão e internet. Ela foi traída pelo namorado Chico, para quem fez uma música. Quando vi a comoção das pessoas colocando figurinha de choro e lamentando a dor dela, isso foi esquisito para mim. Não porque não ache que o machismo e o patriarcado no Brasil não seja um veneno que oprime as mulheres. Nós, homens, temos a tradição de justificar os erros com a cabeça de “baixo” e essa papagaiada é socialmente aceita, o que é vergonhoso.
Porém, veio à minha mente que há menos de uma semana uma menina de três anos, chamada Heloísa, foi baleada e morta por agentes da PRF e a comoção foi infinitamente menor. Por mais que uma coisa não tenha relação com a outra, essa seletividade da internet me enoja. A morte de uma menina de três anos com um tiro gera menos dor que uma cantora que perde o namorado que tinha há três meses.
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Uma inversão de valores que está em nosso feed de internet, em nossas redes sociais e nos cliques que damos. Se no Diário hoje coloca-se uma mulher pelada na capa, venderia muito mais, mas se ele colocasse uma família de Muçum que perdeu tudo, passaria batido.
Somos nós que consumimos mídia que determinamos o que os jornalistas vão mostrar. Se eles colocarem banalidades e forem aplaudidos, vão servir mais, se colocarem conteúdo relevante e forem aplaudidos seguirão nessa linha. Se o Diário hoje decidir publicar as provas e conteúdo para estudo do ENEM será que a venda cairia ou aumentaria? Pois é. A culpa não é da Luísa, ela está no papel dela, mas que a pequena Heloísa merecia mais atenção, merecia.