Bicharada
Em São Gabriel, protetores se preocupam com cães em lixão
Área está sendo desativada e ativistas pedem que a prefeitura dê um destino para os animais
Em São Gabriel, na Fronteira Oeste do Estado, um lixão serve de casa para cerca de 40 cachorros há muitos anos. Agora, o local está sendo desativado, e ativistas da causa animal na cidade pedem que a prefeitura tome providências para realojar os animais.
Ivin Borges, 36 anos, fotógrafa e protetora de animais há mais de uma década, conta que a maior preocupação, no momento, é a falta de alimento para os cachorros. Os resíduos não estão mais sendo destinados para o terreno onde permanecem os cães e, agora, eles dependem somente do que ela leva para se alimentarem.
– É um problema que vem de muitos anos. Desde que comecei (a atuar como protetora de animais), faço um trabalho lá (no lixão), mas não ia seguido porque tinha alimento. Não que o lixo seja a comida ideal, mas pelo menos tinha – relata.
Cuidados
Na medida do possível, ONGs e protetores de animais da cidade dão atenção para os cachorros do lixão, castrando-os para evitar que procriem, levando comida e remédios. Falta espaço nas organizações para abrigá-los e não existe um canil municipal, por isso, durante todos esses anos, eles tiveram que permanecer vivendo em meio ao lixo. Porém, nem sempre as entidades conseguem dar conta da situação e atender todos os animais.
– Tem uma cadela que a gente não conseguiu pegar (para castrar) porque ela é muito arisca. Todas as dóceis, já castramos, mas essa a gente não conseguiu de jeito nenhum. Ela pariu lá (no lixão), eagente não conseguiu achar os filhotes, não sabemos onde foram ou o que aconteceu com eles – exemplifica.
Sem alimento chegando pelo caminhão da coleta, Ivin passou a levar ração para os cachorros com mais frequência. Mas os custos são altos – envolvem gasolina também –, além da necessidade de disponibilidade e de um local para cozinhar restos de carne que complementam a alimentação dos cães, já que nem sempre a ração é suficiente para todos. Para dar conta de tudo isso, a protetora mantém uma vaquinha online para receber doações.
– As pessoas também doam pelancas, restos de carne, mas não dá para cozinhar no gás porque sai muito caro, tem que ser fogão a lenha. A gente está conseguindo alimentar eles assim. Mas não é sempre que as pessoas podem doar e nem sempre vamos poder ir lá três vezes na semana. São muitos animais para poucas pessoas – lamenta.
Abandono
Os ativistas acionaram o Ministério Público, que solicitou à prefeitura de São Gabriel a criação de um canil municipal, entre outras medidas de preservação da vida animal. O município tem até dia 19 deste mês para informar sobre a implementação das providências que foram determinadas, sob pena de multa diária.
Além da responsabilidade do município, Ivin acredita que o problema de abandono de animais na cidade é recorrente e causado pela população, que ela diz “descartar seus cães” ou deixar de castrá-los, mesmo que o procedimento seja oferecido de forma gratuita. Assim, a demanda de cuidados recai sobre protetores e ONGs, que nem sempre têm condições de lidar com a situação.
– Aparece um cachorro atropelado, e as pessoas esperam que a gente resgate e só tire da frente dos olhos delas – lamenta.
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Prefeitura fala de medidas adotadas
A prefeitura de São Gabriel informa que vem realizando uma série de ações estabelecidas com a Justiça e Ministério Público, visando o isolamento do local do lixão e recuperação da área degradada. A política de bem estar animal é de responsabilidade da Secretaria da Saúde, que informou às ONGs da cidade que verbas municipais serão liberadas para que possam desenvolver sua ação protetora.
Entre as medidas adotadas, foi celebrado um termo de fomento com a Associação de Proteção de Animais São Francisco de Assis, conhecida como Amigo Bicho, que está construindo um abrigo para animais domésticos abandonados. Além disso, o município firmou uma parceria com a ONG Conscientizar, que possui uma casa de passagem para adoção responsável.
A prefeitura afirma, ainda, que a intimação do Ministério Público está a cargo da Procuradoria Geral do Município e será respondida no prazo estipulado.
Produção: Caroline Fraga