Coluna da Maga
Magali Moraes e os ruídos da madrugada
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Alguns são poéticos, outros são irritantes e desagradáveis. Que o barulhinho de chuva mansa faz dormir gostoso, ninguém duvida. Praticamente nos embala no berço, não importa se já somos bem crescidos. Pra quem tem filhos pequenos, acordar com gritos de choro no meio da noite é como um som repentino de sirene disparando. Acostuma até. Depois que eles crescem e se tornam adolescentes, o que mais queremos ouvir de madrugada é o ruído sutil da porta de casa abrindo. Chegaram a salvo.
Um ranger no piso de madeira? Depende do contexto. Num hotel antigo e charmoso ou em um sítio num fíndi com amigos, vira memória afetiva. Agora se for em uma casa desconhecida e estivermos sozinhos, pode ser filme de terror. Falando em sustos noturnos, alguns só fazem barulho dentro da nossa cabeça. São os boletos ameaçadores, as preocupações, medos e ansiedades. Basicamente, os pesadelos modernos da vida adulta. Outro típico: o vizinho arrastando móveis no andar de cima.
Ronco
O que me tira o sono (e a paz) são barulhos compassados, aqueles que a gente sabe que têm continuação. O pinga-pinga da goteira, o tique-taque do relógio de parede, o ronco que vai e vem, a freada do ônibus na parada que nos deixa esperando a arrancada a seguir. Tem outro ruído clássico nas minhas madrugadas: como eu moro numa grande avenida, costumo escutar a chegada do caminhão que recolhe o lixo e faz a limpeza dos contêineres. Mas se estiver dormindo, não ouço nada.
Esse é o grande mistério noturno. Nas noites bem dormidas, parece que alguém pega o controle remoto e coloca a cidade inteira no mudo. Já nas madrugadas insones, qualquer ruído cresce e incomoda. Você percebeu que os passarinhos cantam cada vez mais cedo? Madrugadores que mal esperam o amanhecer. Seria lindo de escutar, se não fosse a insônia martelando nos meus ouvidos. Quando tento dormir e não consigo, o único som possível é o da minha respiração. O silêncio, esse sim, é lindo.