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Reportagem flagra venda de remédios controlados sem receita na Região Metropolitana

Consumo de medicamentos sem orientação médica pode gerar riscos e dependência; comércio irregular é considerado crime

18/10/2023 - 13h04min


Giovani Grizotti
Reprodução / RBS TV
Remédios controlados, que podem causar dependência, são vendidos sem receita em farmácia de Porto Alegre

Duas farmácias da Região Metropolitana foram flagradas vendendo remédios de uso controlado sem prescrição médica. O caso foi revelado no Bom Dia Rio Grande, da RBS TV, desta quarta-feira (18). A reportagem visitou 13 estabelecimentos da Grande Porto Alegre e em dois flagrou as irregularidades.

Em um dos estabelecimentos, no bairro Bom Fim, em Porto Alegre, é preciso apresentar uma espécie de senha — que é o nome de uma mulher e de uma empresa onde ela supostamente trabalha — para comprar os medicamentos sem prescrição. A reportagem esteve no local em busca de uma substância utilizada no tratamento de depressão e transtornos de humor.

O balconista oferece um medicamento genérico e verifica a dosagem. O valor cobrado é três vezes maior do que o preço praticado no mercado. Ele explica que o preço é mais elevado porque ele não pode conceder o desconto do laboratório devido à ausência de receita.

Em seguida, o atendente diz que depois da venda ele conseguirá uma receita médica para legalizar a transação.

Risco de dependência

Especialistas alertam que o uso de remédios sem prescrição médica pode causar dependência.

— O risco principal é a questão da dependência, especialmente aqueles medicamentos que têm tarja preta na caixa. Que são medicações que podem potencialmente desenvolver dependência. Assim como a gente tem informações de que algumas drogas podem causar dependência, essas medicações também podem — diz Cristiane Stracke, coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde de Porto Alegre.

Segundo a psiquiatra especialista em adições Patrícia Saibro estas substâncias podem causar alucinações, gerando riscos aos usuários:

— Ela (a pessoa que usa o remédio) pode estar dirigindo um carro de noite, ela pode ir no fogão cozinhar e acabar botando fogo nas coisas, porque é como se ela estivesse sonâmbula. E ela não consegue se lembrar do que aconteceu no dia posterior a ter tomado essa medicação.

Além da dependência, o usuário pode desenvolver abstinência.

— Uma vez desenvolvida essa dependência, ela vai poder apresentar a síndrome da abstinência, resposta do corpo à falta daquela  medicação e um dos efeitos mais perigosos é a pessoa ter crises convulsivas, que podem acontecer em qualquer lugar — explica a psiquiatra.

A filha de uma aposentada ouvida pela reportagem, que preferiu não se identificar, desenvolveu a dependência dos medicamentos. Ela adquiria as substâncias na farmácia mostrada na reportagem, em Porto Alegre, e chegou a precisar de internação.

— Ela precisou fazer internação psiquiátrica, pro desmame, como eles chamam, né, pra desintoxicar. Ficou 30 dias na clínica para, então, conseguir sair bem e retomar a vida — conta a mãe.

A aposentada relata que foi até a farmácia onde a filha comprava remédios para verificar se conseguiria efetuar a compra dos mesmos medicamentos. Ela diz que usou a senha e comprou os produtos com facilidade.

A reportagem retornou à farmácia para questionar se os medicamentos eram vendidos sem receita. O atendente negou.

Outro caso denunciado ocorreu em uma farmácia de Alvorada. Neste local, a reportagem comprou o mesmo medicamento para depressão, também sem apresentar receita.

Crime

Segundo a Polícia Civil, vender medicamentos controlados sem receita médica se equipara ao tráfico de drogas, com pena de até 15 anos de prisão. Quem compra pode ser enquadrado em porte de drogas.

— A farmácia que pratica esse tipo de venda pode ser interditada. Os órgãos de vigilância devem ser acionados e o estabelecimento enfrentará tanto processos administrativos quanto penais — explica a delegada Cristiane Becker.

Contraponto

Um representante da farmácia de Porto Alegre flagrada vendendo remédios controlados sem receita foi procurado e não quis se manifestar. O responsável pelo estabelecimento de Alvorada não respondeu contato da reportagem até esta publicação.

A reportagem também procurou o Conselho Regional de Farmácia, para manifestação sobre a fiscalização dos estabelecimentos, mas não recebeu posicionamento até a publicação desta matéria.


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