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Após infarto, idoso esperou 55 dias por cateterismo
Crise no Instituto de Cardiologia causa filas de espera para o procedimento
Na noite de 3 de outubro, o metalúrgico aposentado José Machado, 63 anos, procurou a UPA Scharlau em São Leopoldo com dores no peito. Após realizar os exames necessários, foi constatado que ele estava tendo um infarto do miocárdio e precisava fazer um cateterismo – procedimento que serve para diagnosticar ou tratar doenças cardíacas. Assim, já na madrugada do dia 4, foi encaminhado para o Hospital Centenário.
José ficou alguns dias na emergência da instituição, até que foi transferido para o quarto. Foi quando decidiu entrar na Justiça para tentar agilizar a realização do cateterismo. Informou a situação ao Ministério Público no dia 16 de outubro, que ajuizou uma ação civil pública em 21 de novembro, com o pedido de antecipação da tutela (significa que o juiz permitiu que o autor obtenha de forma antecipada algo que foi pedido no processo).
– O que os médicos falam para nós é que não tem verba, os hospitais estão sem dinheiro para fazer o cateterismo. A gente fica aguardando a marcação pela central de consultas, só que não chamam nunca – explica o aposentado.
No hospital
Já não é a primeira vez que José sofre um infarto. Em 2012, quando teve o problema pela primeira vez, colocou um stent (tubo vazado que ajuda a restabelecer o fluxo sanguíneo da artéria). Agora, seria preciso investigar, por meio do cateterismo, o tratamento necessário.
O hospital, porém, não deu previsão à família sobre quando poderia ser feito o procedimento. Apesar da angústia, o paciente reconhece que os funcionários têm feito o possível para ajudar:
– O atendimento é ótimo. Os médicos e enfermeiros fazem o que podem por nós, que estamos internados. Depois do contato do Diário Gaúcho com o hospital para a produção desta reportagem, foi feita uma tentativa de cateterismo em José nesta terça-feira, 28 de novembro, no Instituto de Cardiologia – Fundação Universitária de Cardiologia (IC-FUC). Porém, não foi possível realizar o procedimento devido ao excesso de gordura na veia.
Até o fechamento desta matéria, José estava passando por uma nova bateria de exames para avaliar a colocação de uma ponte de safena. No total, foram 55 dias de espera pelo cateterismo.
Capital: crise no Cardiologia causa filas
O Hospital Centenário informa que os cateterismos não são feitos na instituição. Os pacientes aguardam no leito até serem transferidos pelo sistema de Gerenciamento de Internações Hospitalares (Gerint) para um hospital de referência que realize o procedimento.
A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, cidade dos hospitais de referência de São Leopoldo para a cirurgia, informa que “o principal executante (para solicitantes de média complexidade) sempre foi o Instituto de Cardiologia, e com o déficit que vem se agravando nos últimos anos, a oferta deste procedimento também ficou prejudicada”. Atualmente, na Capital, há 70 solicitações para cateterismo cadastradas no Gerint.
A pasta completa que, para ajudar a estancar a crise do IC-FUC, a prefeitura de Porto Alegre e governo do Estado irão anunciar, amanhã, aporte de R$ 15,3 milhões, por parte do Ministério da Saúde, para custeio dos serviços. O repasse total será garantido para este ano e em três parcelas: duas de R$ 1,3 milhão referentes aos meses de novembro e dezembro, e uma parcela única de R$ 12,8 milhões até o final do ano. A partir de 2024, o recurso está garantido em parcelas mensais.
Produção: Caroline Fraga