Em oito anos
Como Porto Alegre reduziu em 90% o número de roubo em ônibus no mês de outubro
No Estado, queda no último mês foi de 33,3% na comparação com o período do ano passado
Em meio a uma redução de casos de roubo, usar transporte público em Porto Alegre deixou de ser motivo de tensão ao longo dos anos. Comparando os meses de outubro dos últimos oito anos, os episódios de assalto dentro de coletivos caíram 90% na cidade: foram de 50 em outubro de 2016 para cinco no mesmo período deste ano. Forças de segurança atribuem a queda a diferentes fatores, como a criação de uma força-tarefa para combater os casos e a menor circulação de pessoas e de dinheiro vivo dentro dos veículos. No entanto, usuários do transporte relatam medo de roubos durante a espera em paradas e terminais de ônibus, e listam cuidados para tentar se proteger.
Conforme levantamento da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), a queda é verificada ao menos desde 2016. Naquele ano, foram 50 roubos somente em outubro, o que representa mais de um episódio por dia. Já em outubro deste ano, foram cinco casos, praticamente um por semana.
No acumulado desses anos, a retração também é verificada. De janeiro a dezembro de 2016, foram registradas 915 ocorrências. No período em 2022, o número despencou para 40 casos, uma queda de 95%.
Um dos fatores que teriam contribuído para a queda significativa é a criação do Fórum Transporte Seguro, também em 2016. A entidade foi idealizada para combater os episódios de violência nos coletivos e é formada por integrantes de diferentes instituições, como EPTC, Brigada Militar, Polícia Civil, Guarda Municipal, empresas de ônibus e demais grupos ligadas ao transporte coletivo. A equipe faz reuniões mensais, para debater os números e pensar ações integradas no objetivo de manter a queda.
— Todo esse trabalho foi desenvolvido em conjunto, passou pela mão de diferentes instituições, engajadas no mesmo objetivo. Destaco o trabalho das forças de segurança, como Brigada Militar, Guarda Municipal e Polícia Civil, que estão diretamente no fronte fazendo repressão e abordagens diárias nos coletivos — avalia o coordenador do Fórum, Adailton Maia.
No Rio Grande do Sul, os números também tiveram queda, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado. Em outubro deste ano foram registrados 26 roubos no transporte coletivo em todo o RS, 13 casos a menos do que o mesmo período do ano passado, o que representa uma queda de 33,3%.
Câmeras, investigação e palestras
Em 2019, uma força-tarefa feita pela Polícia Civil ganhou peso e se transformou na Delegacia de Polícia Especializada de Repressão a Roubos em Transporte Coletivo (DRTC), que atua em casos registrados na Capital. Desde então, as equipes passaram a contar com recursos próprios.
Para o titular da DRTC, delegado Daniel Ribeiro, outro ganho contra a ação de criminosos foi a instalação de câmeras nos veículos. Os equipamentos ajudam as equipes a identificar os envolvidos nos casos e também a coibir novos delitos. Além disso, trazem maior sensação de segurança aos usuários do serviço.
Apesar de a circulação de dinheiro vivo ter diminuído dentro dos coletivos — já que a maioria da população paga as passagens com cartões como o TRI —, o que também afasta o lucro de quem comete o roubo, o aparelho celular segue como alvo comum de criminosos, que recolhem aparelhos e fogem em seguida. Nesse sentido, a polícia orienta usuários a manterem objetos pessoais na vista.
Segundo o policial, outra iniciativa da delegacia são palestras em que a tripulação dos coletivos é orientada sobre a ação de criminosos. Nesses diálogos, são repassadas informações sobre como se proteger e o que fazer em caso de assaltos. Conforme Ribeiro, é explicado aos funcionários, por exemplo, o que observar durante a ação para, depois, preencher o boletim de ocorrências.
Em razão de todas as medidas tomadas nos últimos anos, o delegado afirma que esse tipo de delito deixou de ser oportuno à criminalidade.
— Como se dissemina, entre a criminalidade, que há resposta do poder público a esses delitos, os indivíduos migram para outros tipos de crime. Essa é uma das estratégias do fórum. Em relação à atuação da Polícia Civil, reforçamos o trabalho de investigação sobre os episódios, o que leva à prisão dos envolvidos — pontua o delegado Ribeiro.
Presença da Brigada Militar
Das ações desenvolvidas pela Brigada Militar, o policiamento dentro dos veículos é apreciado por motoristas, cobradores e passageiros. Os soldados passam por terminais e paradas e conversam com a tripulação ao longo do dia, monitorando possível atividade criminosa. À frente do Comando de Policiamento da Capital (CPC), o coronel Luciano Moritz destaca que essas ações são feitas diariamente por equipes de Porto Alegre.
Ele atribui a queda nos números a uma série de fatores, como trabalho de inteligência policial, reuniões frequentes entre instituições para tratar do tema e a introdução de formas alternativas de pagamento de passagem.
O coronel ressalta ainda a importância do registro de ocorrências, seja de roubos consumados ou de atitudes suspeitas. Segundo ele, é importante repassar o máximo de informações possíveis, como número da linha de ônibus, data e horário, como ocorreu a ação e características dos envolvidos.
— É o boletim de ocorrência que vai apontar, aos órgãos de segurança pública, os locais onde os crimes vêm ocorrendo. Com isso, vamos concentrar esforços nesta região, para coibir os delitos e prender os envolvidos — explica Moritz.
Em casos de urgência, a BM pode ser contatada pelo telefone 190. Já o boletim de ocorrência pode ser feito por meio da delegacia online ou diretamente em uma delegacia. É possível falar com equipes da delegacia de Repressão a Roubos em Transporte Coletivo pelo telefone 3288-8528.
Preocupação na parada
Nesta sexta-feira (24), a reportagem circulou pelo Terminal Parobé, no Centro Histórico da cidade, e conversou com usuários. Alguns dos passageiros relatam ter notado que os roubos dentro dos coletivos diminuíram, enquanto a sensação de segurança aumentou.
É o caso da aposentada Nair Poncio, 60, que mora no bairro Passo das Pedras e pega ônibus ao menos uma vez por semana.
— Eu não vejo esse perigo todo atualmente, seja no ônibus ou nas paradas. Acho que o que importa é estar ligado, porque esses indivíduos vão atrás dos distraídos. Eles ficam cuidando, chegam do nada, têm a mão leve, te tomam as coisas e vão embora.
Já a estudante Simone Helena Pacheco, 36, que utiliza o transporte todos os dias, diz que se sente insegura nas paradas. Moradora do Jardim Leopoldina, ela conta que nunca teve problema ao se deslocar em coletivos, mas que já observou roubos quando usuários estão subindo ou descendo dos coletivos.
— Me sinto muito mais segura dentro dos veículos do que nas paradas, acho que esse é o maior problema atualmente para quem anda de ônibus. Mesmo à luz do dia e em terminais maiores, mais movimentados, tento não usar o celular, espero para entrar no ônibus — diz Simone.
Segundo a Brigada Militar, para coibir roubos em paradas, as equipes se posicionam em pontos bases estratégicos pela cidade, de onde conseguem monitorar a circulação de passageiros e também de pedestres. As ações são feitas diariamente, conforme o CPC.