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Blitz do DG

Falta de banheiros, elevadores quebrados e ausência de informação: o panorama dos terminais de ônibus na Capital

Reportagem circulou entre pontos do município e ouviu relatos de problemas entre usuários das estruturas

03/11/2023 - 23h00min


Ian Tâmbara
Ian Tâmbara
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Falta de acessibilidade, carência de informações e poucos banheiros: esses foram alguns dos problemas encontrados pela reportagem durante uma blitz realizada em 13 terminais de ônibus em todas as regiões de Porto Alegre. Durante dois dias, foram visitados os terminais e estações Azenha, Triângulo, Parobé, Rui Barbosa, Nilo Wulff, Antônio de Carvalho, Cairú, Conceição, Farrapos, Jayme Caetano Braun (Nilo Peçanha), José Eduardo Utzig, Mendes Ribeiro e São Jorge. 

Ao chegar nos terminais, uma dificuldade encontrada pela reportagem foi conseguir se orientar entre as linhas somente a partir das placas e sinalizações. Em muitos casos, como nos terminais Triângulo, Mendes Ribeiro, Antônio de Carvalho, Azenha e Estação Farrapos, há poucas informações sobre quais linhas de ônibus estão disponíveis e para onde eles levam. 

Um exemplo disso foi quando, por mais de uma vez, usuários desorientados questionavam os repórteres sobre qual linha deveriam pegar para ir a um determinado lugar. Por outro lado, as estações Parobé, Nilo Peçanha e Nilo Wulff possuem uma sinalização mais adequada.  

A segurança também é um item frequente entre as reclamações dos usuários. No terminal da Azenha, há presença constante de pessoas que abordam os passageiros pedindo dinheiro. 

— Tem bastante gente que vem pedir. De noite, não dá pra ficar aqui sozinha, porque o risco de assalto é grande. Já fui abordada uma vez por dois meninos de uns 12, 13 anos com faca na mão — afirma Giane Barcelos, 33, gestora comercial.  

Falta de acessibilidade  

Durante a blitz, no terminal José Eduardo Utzig, a reportagem encontrou o aposentado Roberto Santos, 72 anos, com problema de saúde na perna. Ele tinha cirurgia marcada para o dia seguinte, e por essa razão, não conseguia caminhar perfeitamente. Mesmo assim, teve que descer, pé por pé, a escada comum, já que o elevador não estava funcionando.  

— Se tivesse o elevador seria uma beleza. Ah não, complica completamente aqui. Eu evito até de pegar ônibus aqui. Cabe aos governantes resolverem isso, né? Eu acredito que não vão fazer nada. Só vão prometer — desabafa. 

Lauro Alves / Agencia RBS
Falta de acessibilidade é um dos problemas no terminal Triângulo.

No terminal Triângulo, apenas dois dos quatro elevadores estão funcionando, sendo que um deles opera enferrujado por dentro, com problema na tela que sinalizaria em qual andar ele está. Um dos outros dois não tem, sequer, sua estrutura original. 

Além disso, o ponto localizado na Zona Norte apresenta um problema grave no piso tátil, que serve como guia para pessoas com deficiência visual. Isso porque todo o caminho da estrutura é “interrompido” pelos pilares de cobertura nos dois lados de embarque. 

Poucos assentos 

Quem desce do trem na estação Farrapos e precisa seguir o seu trajeto de ônibus, acaba tendo que esperar em pé. A parada de ônibus no local não tem nenhum assento. 

— Prejudica bastante, porque dependendo de onde você trabalha, desce do ônibus e tem que ficar esperando outro, ou vai em pé no trem. Aí você chega na parada e não tem um banco... fica chato. Seria bom um assento pelo menos para aliviar as pernas — avalia o pintor Rogério Duarte, 56 anos. 

No Terminal Cairú, a situação é semelhante. O local possui uma ampla área de parada para ônibus, com estruturas cobertas. Porém, nem todas possuem bancos. Atualmente são 15, embora o espaço permita a instalação de ao menos mais 30. 

Cuidado para não ficar no aperto 

Lauro Alves / Agencia RBS
Terminal Antônio de Carvalho está sem banheiro disponível para os usuários.

Um dos mais movimentados terminais, o Antônio de Carvalho também é um dos que não possui banheiros disponíveis. Isolado com tapumes, o espaço ainda está em construção.  

O autônomo Clodoaldo Lopes, 52 anos, trabalha com comércio ambulante no entorno do terminal. Normalmente, ele passa o dia na região e garante que se trata de um lugar tranquilo. O problema é quando vem a vontade de ir ao banheiro: 

— A gente paga imposto e, mesmo assim, parece que não é visto (pela prefeitura) a prioridade de termos um banheiro aqui. 

Dos locais visitados pela reportagem, a prefeitura informa que já passaram por reformas os terminais Antônio de Carvalho, Azenha, Jayme Caetano Braun (Nilo Peçanha), Nilo Wulff e a parte elétrica do terminal Mendes Ribeiro. 

Viajando pelos terminais

Azenha

  • /// Banheiros em bom estado, com limpeza de garis
  • /// Reclamações quanto à segurança, com presença constante de moradores de rua e até relatos de assalto
  • /// Carece de sinalização das linhas

Parobé

  • /// Contém placas sinalizando as linhas
  • /// Presença constante de moradores de rua
  • /// Banheiro fechado, sem água

Rui Barbosa

  • /// Escadas rolantes e elevador operando normalmente
  • /// Não possui banheiro
  • /// Há alguns pontos com infiltração
  • /// Possui placas com a sinalização básica das linhas, mas sem uma explicação do destino delas. Uma das placas teve a linha apagada

Conceição

  • /// Banheiro antigo, com pia de cimento, vasos sujos e portas velhas, enferrujadas
  • /// Não é fornecido papel higiênico

Cairú

  • /// Nem todas a área coberta possui bancos. Há 15 assentos, sendo que havia espaço para pelo menos mais 30 estruturas
  • /// Sem banheiro para usuário

Farrapos

  • /// Não tem assentos
  • /// Falta de sinalização de linhas

Estação Utzig

  • /// Elevador não funciona
  • /// Escada rolante estava ligada, porém operando de maneira mais lenta que o normal em alguns momentos
  • /// Bastante pichações nas paredes
  • /// Na cobertura da estação, há uma espécie de calha rachada que infiltra água e molha os passageiros que passam por baixo. Além disso, a estrutura de proteção da cobertura bem deteriorada por fora

Nilo Peçanha

  • /// Elevador parado por furto de fiação elétrica
  • /// Banheiro em boas condições
  • /// Bem sinalizado, com placa que indica linhas e respectivas estações

Victor Mendes

  • /// Dos seis elevadores, três não funcionam
  • /// Das oito escadas, quatro não funcionam
  • /// Travessia escura, toda com muitas pichações nas paredes
  • /// Não possui sinalização de linhas
  • /// Iluminação não funciona

São Jorge

  • /// Pouca sinalização das linhas
  • /// Local tem acesso por rampas, e há algumas áreas em que pinga água da chuva nelas
  • /// Não tem banheiro

Antônio de Carvalho

  • /// Não tem sinalização das linhas e destinos
  • /// Banheiro está em construção
  • /// Pista tátil com bom acesso, porém possui apenas uma entrada com rampa

Triângulo

  • /// Dois dos quatro elevadores funcionando, porém um deles opera enferrujado por dentro, com problema na tela que sinaliza em qual andar está
  • /// Dos outros dois que não funcionam, um não tem mais nem a estrutura no local
  • /// Área coberta arrumada
  • Desnível no chão
  • /// Piso tátil ainda com problema
  • /// Lixeiras e bancos depredados
  • /// Não tem lista de linhas

Nilo Wulff

  • /// Banheiro limpo, apesar da estrutura antiga
  • /// Bem sinalizado 

Em nota, a prefeitura de Porto Alegre afirma que a revitalização de terminais está em andamento. 

Em relação aos terminais, a prefeitura, por meio da Secretaria de Mobilidade Urbana, informa que começou no ano passado, dentro do Programa Mais Transporte, um projeto de revitalização e manutenção de grandes terminais. O projeto é dividido em fases e permite que ao longo de cinco anos seja garantido um serviço de qualidade para os usuários nesses espaços, os quais não passavam por reformas estruturais há cerca de 20 anos. 

Na primeira etapa foram contemplados com amplas reformas os terminais Azenha (Princesa Isabel), Parobé, Antônio de Carvalho, Nilo Peçanha (Jayme Caetano Braun), e Nilo Wulff (Restinga). A próxima etapa irá contemplar o Rui Barbosa (CPC), Triângulo, Utzig e Mendes Ribeiro. Os trabalhos serão realizados até o primeiro trimestre de 2024. A terceira etapa irá contemplar os demais terminais citados pela reportagem.

Quanto às fases, no primeiro momento é feita uma reforma geral, a qual contempla iluminação e elétrica, telhado, drenagem e esgoto, lavagem e pintura, pisos e bancos, piso tátil e rampas de acesso. No segundo momento é feita a revisão dos principais serviços e modernização da sinalização ao usuário e inovações.

Em relação aos elevadores e escadas rolantes, os terminais sofrem historicamente com roubos e furtos. A Secretaria de Mobilidade em conjunto com a Secretaria de Obras tem reformado constantemente estes equipamentos e, infelizmente, tendo em diversas oportunidades o retrabalho. No entanto, a prefeitura trabalha para a contratação de uma nova empresa especializada em elevadores e escadas rolantes para a manutenção e modernização dos mesmos, assim como na contratação de empresa de vigilância para o atendimento preventivo e ostensivo destes ambientes.

Reforçamos ainda que os maiores fiscais dos espaços públicos são os próprios usuários e assim, é muito importante que a qualquer sinal de vandalismo, a prefeitura seja contatada através dos telefones 153, 156 ou 118.


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