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Sindicato dos motoboys estuda propor gorjeta obrigatória de 10% para entregas

A ideia é remunerar os profissionais e encerrar a polêmica sobre a obrigação de levar ou não o pedido até a porta do cliente, principalmente, em condomínios onde é necessário o acesso

16/11/2023 - 05h00min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Lauro Alves / Agencia RBS
Volnei Apolinário diz que não se importa de levar entregas na porta de clientes

Enquanto a Câmara de Vereadores de Porto Alegre recebeu um projeto de lei para desobrigar entregadores a terem de acessar condomínios para fazer entregas, a entidade de classe da categoria tem outra ideia. 

Valter Ferreira, presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais (Sindimoto-RS), deve chamar os profissionais no próximo mês para discutir a criação de uma gorjeta obrigatória de 10% sobre o valor das encomendas. 

A ação, conforme o presidente do sindicato, encerraria a discussão sobre ser obrigatório ou não para o entregador levar o produto até a porta do cliente. A polêmica afeta, principalmente, entregas de alimentos e remédios por meio de aplicativos. 

— Se o garçom tem o 10% para o trajeto dentro dos estabelecimentos, porque não podemos ter isso diante de todos os riscos que a gente se expõe diariamente? — questiona Valter.

Menos entregas, menos remuneração 

Um dos grandes problemas enfrentados por entregadores é que a remuneração vem pela quantidade entregas. Isso é ainda mais latente para aqueles que trabalham somente com aplicativos de delivery. Assim, mais do que o tempo de trabalho, importa o número de entregas realizadas. 

Por isso, cada vez que um entregador precisa acessar um condomínio e levar a entrega até a porta do cliente, é dinheiro perdido para ele. Só que a polêmica não para por aí, há questões como a segurança interna dos condomínios, que muitas vezes não permitem o acesso de motoboys e cicloentregadores, mesmo que os clientes insistam.

— Se essa questão for adiante, toda entrega passa a ser na porta do cliente. Porque estaríamos, agora sim, sendo remunerados por isso. Somente em casos onde o condomínio proibir o acesso não entraríamos, mas isso não exime a taxa, porque não é o entregador que deixa de fazer o trabalho e sim o local que proíbe a entrada — explica Valter.

O presidente do Sindimoto-RS esclarece, entretanto, que o caminho ainda é longo. Atualmente, o setor jurídico do sindicato avalia a viabilidade da proposta e como ela se estenderia para toda a classe de entregadores, inclusive, os ciclistas. 

Se os trabalhadores aprovarem a ideia no chamamento do próximo mês, a taxa poderia ser incluída na próxima convenção coletiva da categoria, para o ano que vem. 

— É importante salientar que nossas decisões só vão adiante com apoio da categoria. Vamos chamar os profissionais e ouvir o que eles acham disso — pontua o presidente do Sindimoto-RS.

Entregadores se dividem e relatam situações

Lauro Alves / Agencia RBS
Sanderson Souto acredita que o melhor caminho é a comunicação com os clientes

Para quem está diariamente na lida, as opiniões sobre o tema se dividem. Apesar da maioria apontar preferência por não entrar em condomínios, há quem não se incomode com a questão. O Diário Gaúcho circulou pela região central de Porto Alegre e conversou com entregadores, principalmente, de aplicativos de delivery. Seja os que atuam de motocicleta ou pedalando. 

O ponto pacífico entre os profissionais é o bom senso e a empatia. Na visão dos entregadores, idosos e pessoas com dificuldade de locomoção devem receber as entregas na porta de casa. No mesmo compasso que quem tem condições físicas para buscar o pedido na portaria, deve fazê-lo. Entre os ciclistas e motoboys ouvidos pelo DG, todos tem alguma história sobre a polêmica, seja positiva ou negativa.

— Eu já cheguei num prédio todo molhado, no meio de uma chuva intensa, e o morador pediu que eu subisse para entregar. Quando abriu a porta, ele estava jogando videogame e, por isso, não quis descer — conta Marcelo Amaral, 37 anos, entregador ciclista há dois anos.

Outro ciclista das entregas, Volnei Apolinário, 45 anos, diz que numa entrega onde foi até a porta do cliente, recebeu uma gorjeta de R$ 50. Mas também passou por um caso onde um cliente alegou dificuldade de locomoção e quando foi receber a entrega, outra pessoa aparentemente saudável estava escondida atrás da porta para evitar ter de descer e buscar o pedido.

— A gente vê de tudo, sempre tem algum perrengue. Às vezes o próprio restaurante diz que o entregador leva na porta e sobra para gente ouvir. Eu tento sempre colocar a empatia em prática, se a pessoa me trata bem, eu devolvo na mesma medida — aponta Volnei.

Porteiros também viraram multitarefas

Outro ponto citado é que os porteiros dos prédios também viraram uma espécie receptor de entregas depois da pandemia. Em muitos prédios, o profissional recebe os pedidos na portaria, antes mesmo dos moradores descerem para buscar.

— A gente vê que assim como nós também temos que fazer algo que o aplicativo já deixou claro não ser obrigatório, os porteiros estão fazendo uma função que não é deles — diz Volnei.

Para o motoboy Paulo César da Silva, 33 anos, boa parte dos clientes já tem a consciência de buscar as entregas na entrada dos condomínios. Mas os "espertinhos" sempre acabam aparecendo vez que outra:

— Em um caso, o cliente queria o pedido na porta de casa, mas a portaria não me autorizou a subir por estar sem documento de identificação físico. Fiquei uns 20 minutos esperando e aí entrei em contato com o suporte do aplicativo com qual trabalho. O cliente foi contatado por eles e só aí ele desceu para receber.

O ciclista entregador Sanderson Souto, 42 anos, acredita que o melhor caminho é a comunicação com os clientes. Ele cita que sempre procura mandar mensagens através do aplicativo de entregas avisando que está em deslocamento e pedindo para que os clientes recebam os pedidos na portaria de seus condomínios. Na maioria dos caso a iniciativa funciona, garante ele, que atua há dois anos com as entregas.


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