Delivery
Sindicato dos motoboys estuda propor gorjeta obrigatória de 10% para entregas
A ideia é remunerar os profissionais e encerrar a polêmica sobre a obrigação de levar ou não o pedido até a porta do cliente, principalmente, em condomínios onde é necessário o acesso
Enquanto a Câmara de Vereadores de Porto Alegre recebeu um projeto de lei para desobrigar entregadores a terem de acessar condomínios para fazer entregas, a entidade de classe da categoria tem outra ideia.
Valter Ferreira, presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais (Sindimoto-RS), deve chamar os profissionais no próximo mês para discutir a criação de uma gorjeta obrigatória de 10% sobre o valor das encomendas.
A ação, conforme o presidente do sindicato, encerraria a discussão sobre ser obrigatório ou não para o entregador levar o produto até a porta do cliente. A polêmica afeta, principalmente, entregas de alimentos e remédios por meio de aplicativos.
— Se o garçom tem o 10% para o trajeto dentro dos estabelecimentos, porque não podemos ter isso diante de todos os riscos que a gente se expõe diariamente? — questiona Valter.
Menos entregas, menos remuneração
Um dos grandes problemas enfrentados por entregadores é que a remuneração vem pela quantidade entregas. Isso é ainda mais latente para aqueles que trabalham somente com aplicativos de delivery. Assim, mais do que o tempo de trabalho, importa o número de entregas realizadas.
Por isso, cada vez que um entregador precisa acessar um condomínio e levar a entrega até a porta do cliente, é dinheiro perdido para ele. Só que a polêmica não para por aí, há questões como a segurança interna dos condomínios, que muitas vezes não permitem o acesso de motoboys e cicloentregadores, mesmo que os clientes insistam.
— Se essa questão for adiante, toda entrega passa a ser na porta do cliente. Porque estaríamos, agora sim, sendo remunerados por isso. Somente em casos onde o condomínio proibir o acesso não entraríamos, mas isso não exime a taxa, porque não é o entregador que deixa de fazer o trabalho e sim o local que proíbe a entrada — explica Valter.
O presidente do Sindimoto-RS esclarece, entretanto, que o caminho ainda é longo. Atualmente, o setor jurídico do sindicato avalia a viabilidade da proposta e como ela se estenderia para toda a classe de entregadores, inclusive, os ciclistas.
Se os trabalhadores aprovarem a ideia no chamamento do próximo mês, a taxa poderia ser incluída na próxima convenção coletiva da categoria, para o ano que vem.
— É importante salientar que nossas decisões só vão adiante com apoio da categoria. Vamos chamar os profissionais e ouvir o que eles acham disso — pontua o presidente do Sindimoto-RS.
Entregadores se dividem e relatam situações
Para quem está diariamente na lida, as opiniões sobre o tema se dividem. Apesar da maioria apontar preferência por não entrar em condomínios, há quem não se incomode com a questão. O Diário Gaúcho circulou pela região central de Porto Alegre e conversou com entregadores, principalmente, de aplicativos de delivery. Seja os que atuam de motocicleta ou pedalando.
O ponto pacífico entre os profissionais é o bom senso e a empatia. Na visão dos entregadores, idosos e pessoas com dificuldade de locomoção devem receber as entregas na porta de casa. No mesmo compasso que quem tem condições físicas para buscar o pedido na portaria, deve fazê-lo. Entre os ciclistas e motoboys ouvidos pelo DG, todos tem alguma história sobre a polêmica, seja positiva ou negativa.
— Eu já cheguei num prédio todo molhado, no meio de uma chuva intensa, e o morador pediu que eu subisse para entregar. Quando abriu a porta, ele estava jogando videogame e, por isso, não quis descer — conta Marcelo Amaral, 37 anos, entregador ciclista há dois anos.
Outro ciclista das entregas, Volnei Apolinário, 45 anos, diz que numa entrega onde foi até a porta do cliente, recebeu uma gorjeta de R$ 50. Mas também passou por um caso onde um cliente alegou dificuldade de locomoção e quando foi receber a entrega, outra pessoa aparentemente saudável estava escondida atrás da porta para evitar ter de descer e buscar o pedido.
— A gente vê de tudo, sempre tem algum perrengue. Às vezes o próprio restaurante diz que o entregador leva na porta e sobra para gente ouvir. Eu tento sempre colocar a empatia em prática, se a pessoa me trata bem, eu devolvo na mesma medida — aponta Volnei.
Porteiros também viraram multitarefas
Outro ponto citado é que os porteiros dos prédios também viraram uma espécie receptor de entregas depois da pandemia. Em muitos prédios, o profissional recebe os pedidos na portaria, antes mesmo dos moradores descerem para buscar.
— A gente vê que assim como nós também temos que fazer algo que o aplicativo já deixou claro não ser obrigatório, os porteiros estão fazendo uma função que não é deles — diz Volnei.
Para o motoboy Paulo César da Silva, 33 anos, boa parte dos clientes já tem a consciência de buscar as entregas na entrada dos condomínios. Mas os "espertinhos" sempre acabam aparecendo vez que outra:
— Em um caso, o cliente queria o pedido na porta de casa, mas a portaria não me autorizou a subir por estar sem documento de identificação físico. Fiquei uns 20 minutos esperando e aí entrei em contato com o suporte do aplicativo com qual trabalho. O cliente foi contatado por eles e só aí ele desceu para receber.
O ciclista entregador Sanderson Souto, 42 anos, acredita que o melhor caminho é a comunicação com os clientes. Ele cita que sempre procura mandar mensagens através do aplicativo de entregas avisando que está em deslocamento e pedindo para que os clientes recebam os pedidos na portaria de seus condomínios. Na maioria dos caso a iniciativa funciona, garante ele, que atua há dois anos com as entregas.