SEU PROBLEMA É NOSSO
Em Cachoeirinha, moradores enfrentam falta de água
Conforme relato de quem vive no local, o problema é recorrente durante o verão
Em meados de dezembro, mesmo com sensação térmica de 40°C, moradores do bairro Parque Espírito Santo, em Cachoeirinha, ficaram quase 10 dias sem água nas residências. Tarefas básicas do dia a dia, como tomar banho, cozinhar ou usar o banheiro, foram feitas no improviso. Conforme relato de quem vive no local, o problema persiste há anos, sendo algo recorrente durante o verão, a estação mais quente.
A vendedora Roseli da Silva, 33 anos, vive com o marido e as duas filhas há um ano no bairro e diz que foi a primeira vez que enfrentou tanto tempo de desabastecimento:
– Ficamos sem uma gota d’água de 13 a 23 de dezembro. Naquela semana, fez calor, foi bem difícil.
Adaptações
Enquanto a água não voltava, Roseli utilizava a piscina das crianças, com capacidade para 1.500 litros, para armazenamento. A reserva foi destinada para atividades domésticas e banhos. No entanto, passados quase 10 dias, já apresentava qualidade comprometida.
–A piscina já estava ficando verde. Fazia mais de uma semana que estava parada e tivemos que usar mesmo assim, porque era o que tinha – lamenta.
Consumir água potável também foi um desafio. A família dependia de um vizinho, que tem poço artesiano. Com baldes e garrafas PET em mãos, precisavam caminhar alguns metros para que tivessem o que beber.
Racionamento
A rotina escolar das filhas também foi impactada. Isso porque as meninas estudam na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Portugal, que fica perto da residência da família. Conforme explica Roseli, as aulas continuaram sendo ministradas, no entanto, servidores orientavam os alunos a levarem suas garrafinhas de casa e pediam que evitassem o uso do banheiro.
Quando a água finalmente retornou às torneiras, os moradores passaram a ter acesso apenas em alguns horários. Diariamente, costuma faltar às 11h e retornar por volta da meia-noite.
Para lidar com o racionamento, Roseli precisou adaptar-se:
– Me organizo para lavar a roupa e dar banho nas minhas filhas de manhã, porque sei que, à tarde, não terá mais água. Mas meu marido chega em casa à noite e precisa tomar banho de balde.
Diante das dificuldades enfrentadas, relata que vários moradores – inclusive ela – já buscaram uma solução junto a Corsan. Porém, só receberam informações imprecisas.
– Eles falaram que a falta era causada por uma queda de energia na região que impedia o funcionamento adequado das máquinas. Mas não ficamos sem luz em nenhum momento – conta.
Desabastecimento é situação recorrente na região, diz leitora
Moradora da Rua Espírito Santo desde que nasceu, a auxiliar administrativo Luana Almeida, 42 anos, conta que o desabastecimento é rotina no bairro em períodos de calor, geralmente entre os meses de novembro e março, e que costuma ser normalizado apenas com a chegada do inverno.
Em janeiro de 2022, afirma que ficou 12 dias aguardando o retorno.
– É terrível não ter água. Deitar no calor, sem poder tomar um banho decente. Eu rezava para chegar a água para que eu pudesse tomar banho – lembra.
Luana mora no mesmo terreno em que os pais, idosos, e conta que já gastaram cerca de R$ 150 com galões de água. A família usava de três a quatro recipientes de cinco litros diariamente durante o período em que esteve completamente desabastecida.
A maior preocupação é com o pai, que sofre de pressão alta. Com o calor, atrelado à falta d’água, recentemente ele teve episódios de mal-estar.
– Todos os anos passamos por isso, geralmente no auge do calor. Ligamos para a Corsan e não recebemos nenhuma explicação – finaliza.
Corsan explica
Em nota, a Corsan explicou que “as instabilidades e interrupções de abastecimento ocorridas nos últimos dias no Parque Espírito Santo ocorreram em consequência de algumas obras de melhorias na zona norte do município, onde fica o bairro”. A empresa afirma ainda que, ao final das obras, “a tendência é a melhora de abastecimento na região”.
Produção: Nikelly de Souza