Sumiu das prateleiras
Falta de energia elétrica faz moradores de Porto Alegre percorrerem supermercado em busca de gelo
Item é opção para resfriar comidas e bebidas em residências que ficaram sem luz após tempestade que atingiu a Capital na terça-feira; velas também são procuradas por consumidores
Alternativa para manter comida e bebida refrigeradas em residências sem energia elétrica, o gelo se tornou artigo escasso em Porto Alegre. A procura faz moradores percorrerem supermercados pela cidade, e ainda assim, relatam que voltam para casa de mãos vazias. Nesta quinta-feira (18), a reportagem circulou por diferentes bairros da Capital e constatou a busca, que abrange também outros itens, como vela e carregadores portáteis.
A busca por esses produtos se dá por moradores que ficaram sem fornecimento de energia elétrica depois da tempestade que atingiu o RS na última terça-feira (16).
O único local em que a reportagem de GZH encontrou sacos de gelo nesta quinta-feira foi em uma pequena loja de conveniência de um posto de combustíveis na Avenida Doutor Carlos Barbosa. Cada unidade sai por R$ 12. Anderson Rodrigues, 44, responsável pelo local, conta que busca a mercadoria na fábrica do produto.
— Eles também não dão conta de produzir tanto quanto precisaria. Vamos pegando aos poucos. Em um dia e meio, vendemos 200 sacos, mas se eu botasse 1 mil unidades aqui venderia rapidinho. A gente perde a venda — conta Rodrigues.
O aposentado Vanderlei Pinto Lima, 75 anos, já havia desistido da busca e se dirigia para casa quando encontrou a loja de conveniência. Ele conta que procura por gelo desde quarta-feira, percorrendo bairros da cidade. Mora no bairro Tristeza e está sem energia elétrica e água deste terça.
— Parece um deserto, não tem nada. Fui em super grande, mercadinho pequeno, nada. Até hoje nunca tinha passado por algo assim, e não temos nenhuma previsão. Ligo para a CEEE, para o Dmae, não atendem.
Apaixonado por carnes, mantém um freezer em casa com diferentes tipos de cortes. A procura por gelo é para tentar amenizar o descongelamento de cerca de 40 quilos do produto.
— Eu vou comprando nas promoções e guardando. Se não conseguisse gelo, ia doar, está descongelando, não iria deixar estragar. Agora consegui, peguei seis pacotes.
"Parece que encontrei ouro"
O advogado Ivan Roguidues Quevedo, 46 anos, também conseguiu comprar gelo na conveniência. Sem luz e se mantendo apenas com a caixa d'água, ele conta que a família tem se desdobrado para conciliar a falta de fornecimento com o trabalho e os dois filhos que estão de férias, tudo dentro de casa, no bairro Medianeira.
— Vim abastecer no posto e vi que tinha gelo, parece que encontrei ouro. Estava procurando desde ontem (quarta) em tudo que é super, não achava nem gelo nem vela. A gente tem duas crianças em casa: meu filho de sete anos tem epilepsia, mantemos toda uma rotina, e a filha de três é cheia de energia. Não tem nem como ligar a TV para entreter eles enquanto a gente trabalha, também de casa. Agora ao menos vamos gelar os picolés para eles refrescarem — brinca Quevedo, enquanto ajeita a compra no porta-malas.
Ao lado da conveniência, na mesma rua do bairro Medianeira, um supermercado maior tem falta de gelo. Conforme atendentes, uma leva de 150 sacos de gelo chegou ao estabelecimento por volta das 10h, mas não durou meia hora no freezer. Durante a manhã, não havia previsão de quando o item seria novamente reposto. No bairro Nonoai, nas redondezas, moradores também reclamam da falta de gelo em mercados da região.
A reportagem também esteve em supermercados dos bairros Glória, Santa Cecília, Azenha e Cidade Baixa, todos sem gelo. Em um deles, junto a Avenida Ipiranga, a previsão em alguns era de reposição ao longo do dia, mas as cargas não dão conta: são vendidas em poucos minutos e o produto volta a faltar. Ali, o saco de gelo custa R$ 7,90.
Na Cidade Baixa e na Azenha, dois supermercados da mesma rede operam com alguns freezers — antes abastecidos com cortes de carnes — completamente vazios, em razão de queda de energia entre terça e quarta. Os atendentes afirmam que os produtos não foram perdidos, mas foram colocados em câmaras frias no interior dos mercados, que têm mais potência para manter os produtos em temperatura adequada. Os freezers vazios estão ligados e voltarão a expor os produtos assim que atingirem o resfriamento adequado, segundo os funcionários.
O mesmo ocorre em um estabelecimento na Rua Lima e Silva, que tem congeladores, antes cheios de potes de sorvete, vazios. Os itens foram colocados em freezers mais potentes, segundo funcionários, e estão à disposição nos fundos da loja. Gelo, no entanto, estava em falta.
Vela e carregador
No supermercado na Avenida Ipiranga, uma prateleira onde ficam as velas comuns estava vazia nesta tarde. Apenas algumas unidades, das aromáticas, ainda ocupavam as gôndolas. O mesmo cenário se repete em um estabelecimento dentro de um shopping no bairro Glória. Nos locais, prateleiras onde ficam caixas de fósforo e pilhas indicavam procura mais intensa por parte de consumidores, mas ainda mantinham itens à disposição.
Outro artigo que teve mais procura nos últimos dias é o carregador portátil de celular. Em uma loja de variedades na Cidade Baixa, somente na manhã desta quinta, três aparelhos já haviam sido vendidos. No local, a busca por pilhas, que já é comum, se mantém estável, segundo vendedoras.
Outros artigos que costumam gerar procura em momentos de queda de energia e desabastecimento, como garrafas de água e lanternas, não estavam em falta nos locais percorridos pela reportagem.
Postos de combustíveis fechados
Ao percorrer a Zona Sul, a reportagem também constatou postos de combustíveis sem serviço de abastecimento, em razão da falta de energia elétrica. Nesses locais, as lojas de conveniência também estavam fechadas.
Dois deles ficam na Avenida Wenceslau Escobar, na altura do bairro Cristal, e estão sem luz desde terça-feira. Ao menos mais dois postos também estavam sem oferecer abastecimento nos bairros Cavalhada e Nonoai.
Na Avenida Icaraí, um posto em funcionamento formava uma pequena fila de veículos, com motoristas em busca de combustíveis.
*Colaborou Eduardo Carvalho